Como todos sabemos, a liturgia da Semana-Santa é riquíssima e muito inspiradora.
Estes dias valem por um retiro. A liturgia escancara diante dos nossos olhos
até onde pode chegar o amor apaixonado e a incansável fidelidade de um Deus humanizado
ao povo que ele ama, e, ao mesmo tempo, a força das resistências,
incompreensões tramas, e traições que se insinuam em nossos belos projetos e
generosas promessas e acampam em meio às tendas que a nossa fé vai erguendo.
O Salmo 65/64, lido em uma perspectiva cristã, nos convida a ver aquilo
que Deus está fazendo no meio de nós: “As
nossas culpas pesam sobre nós, mas tu as perdoas... Com o prodígio da tua
justiça, tu nos respondes, o Deus, nossa salvação, esperança dos confins da
terra e dos mares distantes... Os habitantes dos extremos confins tremem diante
dos teus prodígios; fazes gritar de alegria as portas do oriente e do ocidente.
Visitas a terra e a regas, enchendo-as com tuas riquezas... Coroas o ano
com teus benefícios, à tua passagem
goteja a fartura. Gotejam os pastos do deserto e as colinas se cingem de
júbilo. Os prados se cobrem de rebanhos, com o trigo se douram os vales, tudo
canta e grita de alegria.”
Em Jesus Cristo brilha e vige o perdão incondicional de Deus, a
esperança dá colorido até aos lugares mais recônditos e distantes. Nele, todos
os povos, a começar dos mais pobres e humilhados, têm direito e motivo para
gritar de alegria. No mistério do seu amor crucificado, todas as humanas terras,
por mais ressequidas que estejam, são abundantemente regadas e mostram uma
preciosidade impagável; os desertos viram pastagens e as colinas escarpadas
irrompem em harmoniosa sinfonia.
Tudo, sem nenhuma exceção, canta e grita de alegria, porque nada mais terá
força que nos possa separar do amor gracioso de Deus. Na mesa da ceia pascal,
Deus se inclina e, ajoelhado diante das suas criaturas, lava-lhes os pés. Do
alto da cruz, que é também a mais clara expressão da humilhação humana solidariamente
compartilhada, Deus pronuncia seu ‘sim’ incondicional e definitivo à
humanidade, recapitulando todos os seus anseios e clamores. No silêncio
pungente da vigília que se prolonga na história, Deus suscita milhares de
pequenos e grandes gestos de ousada ternura e, assim, ressuscita num mundo que,
inesperadamente e inexplicavelmente, vai se fazendo novo. O que era visto como
pobre, torna-se precioso, o que era feio faz-se gracioso, o que era tratado
como último torna-se príncipe, a pedra descartada sustenta todo o edifício...
Então, amigos e amigas de perto e de longe, leittores e leitoras
conhecidos/as ou anônimos, vivamos uma boa e santa semana! E uma feliz e
promissora páscoa!
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário