Ó Pai, somos nós o povo eleito que Cristo veio
reunir!
Na liturgia da epifania, ou revelação do amor
de Deus a todos os povos e culturas, Paulo nos lembra que pagãos e todos os
povos e culturas "são chamados a participar da mesma herança, a formar o
mesmo corpo e a participar da mesma promessa" (Ef 3,6). E o evangelista Mateus
expressa essa convicção mediante a estrela que guia os magos (estrangeiros e
pagãos) ao encontro de Jesus. O povo eleito em Jesus Cristo não exclui ninguém
e congrega gente de todas as culturas, condições econômicas e nacionalidades.
Há cinquenta anos, no Concílio Vaticano II, a Igreja católica refletiu sobre sua
identidade e sua missão no mundo. Percebeu que sua inspiração fundamental não
vem das sociedades ou organizações políticas e sociais e sim do próprio Deus:
ela é o novo povo de Deus, o corpo vivo de Cristo na história, o templo do Espírito Santo. A natureza e a
missão da Igreja estão relacionadas com a Santíssima Trindade!
A
Igreja é o novo povo de Deus.
Ela está intimamente relacionada com Deus Pai e criador. O povo de Israel,
animado e conduzido por Moisés pelo deserto, advertido e orientado pelos
profetas, formado por diferentes grupos de pobres e marginalizados, testemunha
do amor de Deus pelos pobres e pequenos, missionário desse amor entre os outros
povos, é uma espécie de figura ou símbolo que antecipou o que seria a Igreja
nascida a partir de Jesus Cristo.
Quando dizemos que a Igreja é o novo povo de Deus queremos
destacar que ela começa acolhendo e reunindo as pessoas que eram excluídas pelo
judaísmo: os doentes e os pobres, os estrangeiros, as crianças, as mulheres, os
pecadores, etc. A Igreja inteira (clero, religiosos/as e leigos/as) é chamada a ser povo, e não uma sociedade elitista e fechada em si mesma.
Enquanto povo, a Igreja também é chamada a se inserir no mundo, na história, nas lutas dos homens e mulheres
concretos. E como povo de Deus, a Igreja se entende peregrina, em processo de realização e de permanente conversão.
A
Igreja é o corpo de Cristo.
É um corpo vivo e histórico, encarnado no mundo. Reúne num mesmo nível de
dignidade homens e mulheres de todos as condições, tempos, raças e povos. Está
subordinada a Cristo, que é sua cabeça. Prolonga criativamente as ações e o
anúncio de Jesus Cristo nos diversos tempos e lugares.
Quando dizemos que a Igreja é corpo de Cristo na história,
queremos enfatizar que ela é formada por diferentes
membros, ministérios e funções que compartilham do mesmo Espírito e atuam
de modo complementar e em função de todo o corpo. Paulo ensina que neste corpo nenhum membro, ministério ou função pode ser
desprezado ou supervalorizado. Esta visão questiona a realidade atual de
nossas comunidades eclesiais, onde os ministérios e funções dos/as leigos/as
são menos valorizados que o trabalho dos padres e bispos...
A
Igreja é templo do Espírito Santo. É o lugar e o espaço onde o Espírito Santo
é acolhido, faz-se presente e age de modo mais denso e sensível. Nesta
comunidade humana chamada Igreja o Espírito desperta
a palavra animadora, a ação profética, a comunhão fraterna, a liberdade
autêntica, a vida abundante. Assim, a Igreja é o grupo de homens e mulheres
reunidos na memória de Jesus e recriados pelo Espírito para continuar
criativamente sua missão.
Quando dizemos que a Igreja é o templo vivo do
Espírito Santo, queremos sublinhar que ela é chamada a viver a
santidade de Jesus, ou seja, sua plena liberdade e capacidade de sempre buscar
o maior bem de todas as pessoas. Ela existe para recriar nos tempos atuais a palavra e as ações de Jesus Cristo,
evitando que os cristãos sejam como papagaios e macacos, que apenas repetem as
palavras e gestos dos outros, sem nenhuma criatividade e atualização.
Itacir Brassiani msf
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