"Agora é tempo de
ser Igreja, caminhar juntos, participar!"
No primeiro
domingo da quaresma a Palavra de Deus nos apresentava Jesus enfrentando
desafios (tentações). O que estava em questão era o jeito de viver sua vocação
de ser o Messias, o Filho de Deus. Por isso, em dois momentos, o tentador
começa dizendo: "Se és o Filho de Deus..." Ele não duvida que Jesus
seja Filho de Deus, mas propõe que ele se aproveite dessa condição em benefício
próprio, para levar vantagem. Jesus propõe uma outra perspectiva: sua missão é
servir e não se servir. E quais são os principais desafios que a Igreja precisa
enfrentar hoje?
Um primeiro
desafio para nossas comunidades, paróquias e dioceses gira em torno do modo
de se organizar e estruturar. A tentação é copiar a estrutura das
sociedades fechadas, hierarquizadas e eficientes, com normas
inflexíveis, classes e funções bem definidas, poderes e decisões concentrados.
O modelo dessa forma de organização é o exército e a monarquia.
É verdade que
a Igreja não é uma mera democracia representativa, na qual tudo é decidido
(apenas) pelo voto. Mas é verdade também que a Igreja não pode ser menos que uma democracia! Seu modelo organizativo não pode
ser a monarquia! Ela nasceu como uma comunidade de discípulos e discípulas que,
recebendo o Espírito Santo, reconheciam uma dignidade comum, sem hierarquia,
sem classes e sem concentração de poder ou ministérios.
O povo de
Deus está desejoso de criar espaços
de comunhão e consolidar canais efetivos de participação nas comunidades, paróquias e dioceses.
E os conselhos de pastoral, conselhos administrativos e assembléias anuais em
todos os níveis são algumas formas de responder a esta demanda, que é também
uma exigência da fé cristã. Já é tempo de transformar nossas paróquias em
redes de comunidades, de forma que seja respeitada a autonomia de cada uma
e sejam criados mecanismos de partilha e solidariedade entre todas.
Um segundo
desafio que precisamos enfrentar é o de ser uma Igreja samaritana,
isto é, acolhedora e misericordiosa. A
tentação sempre presente é dar prioridade à lei inflexível e excludente;
tratar as pessoas friamente como se elas fossem números; insistir nas
obrigações e deveres; colocar as estruturas acima das pessoas. A figura do
"bom samaritano" (cf. Lc 10,25-38) nos interpela a desenvolver uma atitude
de atenção às pessoas, de acolhida e misericórdia, de dedicação e envolvimento
profundo, acima das obrigações, leis e convenções.
Na Igreja não
é mais possível tratar as pessoas segundo sua condição de "sócias" ou
não, de casadas pela Igreja ou não, de primeira ou segunda união matrimonial, e
assim por diante. Não é atitude madura também esperar que as pessoas venham à
Igreja, reclamando e exigindo, sem fazer nada para ir ao encontro delas. Uma
Igreja samaritana vai ao encontro das pessoas concretas, aproxima-se
delas com carinho, trata-as de modo personalizado, acolhe-as como são, cria
meios para socorrê-las em suas necessidades, não disputa os fiéis com as outras
religiões como se as pessoas fossem clientes.
Um terceiro
desafio é a valorização diversas vocações e ministérios eclesiais. A
tentação é construir uma Igreja centralizada no ministério e na pessoa do
padre, do bispo, dos cardeais e do Papa, subordinando a eles todos os
demais serviços, ministérios e vocações e tratando-os como funções menos
importantes ou até dispensáveis. Tudo o que é importante tem que ser feito pelo
padre!
Passou o tempo em que na
paróquia o padre era o único pastor e o resto era um rebanho indiferenciado.
Hoje são dezenas ou centenas os leigos e leigas que exercem um autêntico
ministério pastoral nas comunidades, sejam ou não reconhecidos
oficialmente. O padre é um pastor em meio há muitos pastores/as, e estes
não podem ser tratados como se nada fossem. É urgente tornar mais visível a
comunhão dos diversos ministérios e ministros/as, valorizando-os, promovendo-os
e tratando-os com respeito. Neste sentido, as primeiras palavras e gestos do
Papa Francisco reacendem tantas esperanças.
Itacir
Brassiani msf
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