Quero celebrar o Dia
Internacional da Mulher e homenagear esta graciosa metade da humanidade
com uma espécie de panteão no qual recordo, dia após dia, o nome, a história e
a grandeza humana de algumas mulheres pouco reconhecidas pela história e pelas
colunas sociais. São simples e breves flashes
de vidas muito mais belas e complexas, uma espécie de retalhos da vida, tomados
emprestados da inspirada pena do escritor uruguaio Eduardo Galeano. E começo
pedindo emprestado os versos de Ivone Boechat:
“Um aroma suave
/ exalou das mãos do Criador, / quando seus olhos / contemplaram / a solidão do
homem no Jardim! / Foi assim: / o Senhor desenhou / o ser gracioso, meigo e
forte, / que Sua imaginação perfeita produziu. / Um novo milagre: / fez-se
carne, / fez-se bela, / fez-se amor, / fez-se na verdade como Ele quer! / O
homem colheu a flor, / beijou-a, com ternura, / chamando-a, simplesmente, / Mulher!”
À cabeça de seu
exército rebelde, Luís Carlos Prestes tinha atravessado a pé o imenso Brasil de
ponta a ponta, ida e volta dos campos do sul até os desertos do nordeste,
através da selva amazônica. Em três anos de marcha a Coluna Prestes tinha
lutado contra a ditadura dos senhores do café e do açúcar sem sofrer jamais uma
derrota. Portanto, Olga Benário (12.02.1908-23.04.1942) o imaginava gigantesco
e devastador. Tremenda surpresa levou quando conheceu o grande capitão.
Prestes era um
homenzinho frágil, que ficava vermelho quando Olga o olhava nos olhos. Ela,
afogueada nas lutas revolucionárias da Alemanha, militante sem fronteiras, veio
ao Brasil. E ele, que nunca tinha conhecido mulher, foi por ela amado e
fundado.
Os dois caem
presos ao mesmo tempo. São levados a cárceres diferentes. Da Alemanha, Hitler
reclama Olga por ser judia e comunista, sangue vil, vis idéias. E o presidente
brasileiro, Getúlio Vargas, a entrega. Quando os soldados chegam para buscá-la
na cadeia, os presos se amotinam. Olga acaba com a revolta, para evitar uma
matança inútil, e se deixa levar. Com a cara na grade de sua cela, o escritor
Graciliano Ramos a vê passar, algemada, pançuda de gravidez.
No cais, a
espera um navio que ostenta a cruz suástica. O capitão tem ordens de não parar
até Hamburgo. Lá Olga será trancada num campo de concentração, asfixiada numa
câmara de gás, carbonizada num forno. (Eduardo
Galeano, O século do vento. Memória do fogo, vol. 3, L&PM Pocket
vol. 909, 2010, p. 152-153)
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