Quero celebrar o Dia Internacional
da Mulher e homenagear esta graciosa metade da humanidade com uma
espécie de panteão no qual recordo, dia após dia, o nome, a história e a
grandeza humana de algumas mulheres pouco reconhecidas pela história e pelas
colunas sociais. São simples e breves flashes
de vidas muito mais belas e complexas, uma espécie de retalhos da vida, tomados
emprestados da inspirada pena do escritor uruguaio Eduardo Galeano. E começo
pedindo emprestado os versos de Ivone Boechat:
“Um aroma suave
/ exalou das mãos do Criador, / quando seus olhos / contemplaram / a solidão do
homem no Jardim! / Foi assim: / o Senhor desenhou / o ser gracioso, meigo e
forte, / que Sua imaginação perfeita produziu. / Um novo milagre: / fez-se
carne, / fez-se bela, / fez-se amor, / fez-se na verdade como Ele quer! / O
homem colheu a flor, / beijou-a, com ternura, / chamando-a, simplesmente, / Mulher!”
Toda manhã, todo
amanhecer, faziam fila. Eram parentes, amigos ou amores dos desaparecidos del
El Salvador. Procuravam notícias ou vinham trazê-las. Não tinham outro lugar
onde perguntar ou dar depoimento. A porta da Comissão de Direitos Humanos estava sempre aberta. E também se
podia entrar pelo buraco da última bomba na parede.
Desde que a
guerrilha cresceu nos campos salvadorenhos, o exército já não usava cadeias. A Comissão denunciava ao mundo: “Julho:
aparecem decapitados quinze meninos menores de catorze anos que tinham sido
detidos sob a acusação de terrorismo. Agosto: treze mil e quinhentos civis
assassinados ou desaparecidos desde o começo do ano...”
Dos
trabalhadores da Comissão, Magdalena
Enríquez, a que mais ria, foi a primeira a cair. Os soldados a atiraram,
descarnada, na beira do mar. Depois foi a vez de Ramón Valladares, crivado no
barro do caminho. Sobrava Marianela García Vilas (07.08.1948 – 13.03.1983). “Erva
ruim não morre nunca”, dizia ela.
Liquidaram-na
perto da aldeia de La Bermuda, nas terras queimadas de Cuscatlán. Ela andava
com sua máquina fotográfica e seu gravador, reunindo provas para denunciar que
o exército joga fósforo branco contra os camponeses rebeldes. (Eduardo Galeano, O século do vento. Memória
do fogo, vol. 3, L&PM Pocket vol. 909, 2010, p. 352)
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