Quero celebrar o Dia
Internacional da Mulher e homenagear esta graciosa metade da humanidade
com uma espécie de panteão no qual recordo, dia após dia, o nome, a história e
a grandeza humana de algumas mulheres pouco reconhecidas pela história e pelas
colunas sociais. São simples e breves flashes
de vidas muito mais belas e complexas, uma espécie de retalhos da vida, tomados
emprestados da inspirada pena do escritor uruguaio Eduardo Galeano. E começo
pedindo emprestado os versos de Ivone Boechat: “Um aroma suave
/ exalou das mãos do Criador, / quando seus olhos / contemplaram / a solidão do
homem no Jardim! / Foi assim: / o Senhor desenhou / o ser gracioso, meigo e
forte, / que Sua imaginação perfeita produziu. / Um novo milagre: / fez-se
carne, / fez-se bela, / fez-se amor, / fez-se na verdade como Ele quer! / O
homem colheu a flor, / beijou-a, com ternura, / chamando-a, simplesmente, / Mulher!”
Na mulher que
pensa, os ovários secam. Nasceu a mulher para produzir leite e lágrimas, não
idéias; e não para viver a vida e sim para espiá-la por trás da persiana. Mil
vezes explicaram isso a ela e Alfonsina Storni (29.05.1892 – 25.10.1938) não
acreditou nunca. Seus versos mais difundidos protestam contra o macho
enjaulador.
Quando chegou a
Buenos Aires vinda do interior, Alfonsina trazia uns velhos sapatos de saltos
tortos e no ventre um filho sem pai legal. Nesta cidade trabalhou no que
apareceu; e roubava formulários do telégrafo para escrever suas tristezas.
Enquanto polia as palavras, verso a verso, noite a noite, cruzava os dedos e
beijava as cartas do baralho que anunciavam viagens, heranças e amores.
O tempo passou,
quase um quarto de século, e nada lhe foi dado pela sorte. Mas lutando com mão
firme, Alfonsina foi capaz de abrir caminho no mundo masculino. Sua cara de
camundongo travesso nunca falta nas fotos que reúnem os escritores argentinos
mais ilustres.
Em 1935, no
verão, soube que tinha câncer. Desde então escreve poemas que falam do abraço
do mar e da casa que a espera lá no fundo, na avenida das madrepérolas. (Eduardo Galeano, O século do vento. Memória
do fogo, vol. 3, L&PM Pocket vol. 909, 2010, p. 150-151)
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