"Eu vou colocar o
que aprendi a serviço do povo!"
No evangelho do segundo
domingo de fevereiro Lucas nos contava o primeiro encontro de Pedro, Tiago e
João com Jesus. Foi nas margens do lago de Genesaré, depois de uma noite de
trabalho frustrado (cf. Lc 5,1-11). Entrando na barca deles, Jesus ensinou a
"pescar diferente" e terminou convocaando-os para um outro trabalho:
deixar os barcos e as redes e trabalhar para reunir pessoas. E eles deixaram o
que sabiam fazer e seguiram Jesus pelas estradas da Galiléia. Esta é uma boa
inspiração para refletir sobre os diversos ministérios e vocações na Igreja,
especialmente em tempos de Conclave.
A Igreja é uma assembléia de pessoas chamadas e convocadas. A palavra "Igreja" é
a tradução da expressão grega "ekklesia" que dá nome à ação de
convocar as pessoas para uma assembléia. Este detalhe nos ajuda a compreender
que a Igreja é uma assembléia de pessoas chamadas e convocadas. Todos os
membros da Igreja deveriam sentir-se chamados e convocados por Deus para tomar
parte ativa na sua missão. O hino vocacional do ano 2002 dizia: "O batismo
que eu recebi numa fonte de divino amor, foi o início de uma relação com Deus.
Enxertado no seu coração, já sou parte deste povo irmão: assembléia de
chamados e de convocados para ser feliz."
Assim foi a Igreja da primeira geração. Os cristãos fizeram a experiência
de uma convocação para sair de si mesmos e das malhas dos sistemas religiosos e
políticos que os aprisionavam e a participar de um movimento que os tornava
livres na ação de transformar o mundo. Deste modo, entravam para a comunidade
com a clara compreensão de que eram chamados a se engajar numa missão
que contava com os dons de cada um. Na comunidade cristã, cada um tinha um
lugar insubstituível. Sentiam-se como pedras vivas da construção de Deus (cf.
1Pd 2,5).
Durante sua vida histórica,
Jesus havia chamado discípulos e discípulas e outros o seguiram
espontaneamente. Mais tarde, o próprio Jesus escolheu um grupo de doze
Apóstolos entre os discípulos e discípulas. Entretanto, ao ser morto, Jesus não
deixou uma Igreja organizada em termos de ministérios e serviços.
Os apóstolos e comunidades criaram ministérios.
Eles realizaram tarefa de forma criativa, a partir das necessidades que
surgiam e sob a inspiração do Espírito Santo. Foi assim que, diante da
necessidade de auxiliar as viúvas pobres e estrangeiras e de inculturar a fé,
eles instituíram os diáconos. Mais
tarde, frente à necessidade de uma coordenação comunitária das Igrejas locais,
eles instituíram os presbíteros. E
mais tarde ainda, quando sentiram a necessidade de supervisores mais gerais,
estabeleceram os bispos. E fez isso mesmo
que Jesus não tenha criado tais ministérios.
Mas ao lado destes ministérios
mais reconhecidos, as comunidades cristãs criaram ou acolheram uma enorme gama
de ministérios: dirigentes de
comunidades, catequistas, conselheiros, curadores, doutores, profetas,
missionários, etc. Estes diversos ministérios e serviços estavam perfeitamente integrados no interior das
comunidades, e não acima ou fora delas. Todos convergiam para a realização
da missão do povo de Deus.
A Igreja católica precisa redescobrir sua natureza, que é ser uma assembléia de
pessoas chamadas, cada qual com seu dom e seu serviço. O que existe de comum entre os ministérios ordenados e os ministérios
dos leigos é muito mais importante e fundamental do que as diferenças. As
comunidades desejam, e com razão, a inserção dos bispos, padres e diáconos na
vida das comunidades. A igualdade e a complementaridade dos diversos
ministérios precisa ser mais evidenciada. Dando atenção às necessidades
concretas das comunidades e do povo, a Igreja deverá saber suscitar ministérios
e serviços que ajudem a tornar viva e frutuosa sua missão de ser sinal e
instrumento do Reino de Deus, da vida plena para todos.
Itacir Brassiani
msf
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