Quero celebrar o Dia
Internacional da Mulher e homenagear esta graciosa metade da humanidade
com uma espécie de panteão no qual recordo, dia após dia, o nome, a história e
a grandeza humana de algumas mulheres pouco reconhecidas pela história e pelas
colunas sociais. São simples e breves flashes
de vidas muito mais belas e complexas, uma espécie de retalhos da vida, tomados
emprestados da inspirada pena do escritor uruguaio Eduardo Galeano. E começo
pedindo emprestado os versos de Ivone Boechat: “Um aroma suave
/ exalou das mãos do Criador, / quando seus olhos / contemplaram / a solidão do
homem no Jardim! / Foi assim: / o Senhor desenhou / o ser gracioso, meigo e
forte, / que Sua imaginação perfeita produziu. / Um novo milagre: / fez-se
carne, / fez-se bela, / fez-se amor, / fez-se na verdade como Ele quer! / O
homem colheu a flor, / beijou-a, com ternura, / chamando-a, simplesmente, / Mulher!”
Ela é uma índia
maia-quichê (nascida na aldeia de Chimel, Guatemala, aos 9 de janeiro de 1959)
que colhe café e corta algodão nas plantações do litoral desde que aprendeu a
caminhar. Nos algodoais viu cair seus dois irmãos, Nicolas e Felipe, os
menorzinhos, e sua melhor amiga, ainda menina, todos sucessivamente fulminados
pela fumigação de pesticidas.
No ano 1979, na
aldeia de Chajui, Rigoberta Menchú viu como o exército queimava vivo seu irmão
Patrocínio. Pouco depois, na embaixada da Espanha, também seu pai foi queimado
vivo junto com outros representantes das comunidades indígenas. Em 1980, em
Uspantán, os soldados liquidaram sua mãe aos poucos, cortando-a em pedacinhos,
depois de tê-la vestido com roupas de guerrilheiro. Da comunidade de Chimel,
onde Rigoberta nasceu, não sobrou ninguém vivo.
Rigoberta, que é
cristã, aprendeu que o verdadeiro cristão perdoa seus perseguidores e reza pela
alma de seus verdugos. Quando lhe golpeiam uma face, tinham-lhe ensinado, o
verdadeiro cristão oferece a outra. “Eu já não tenho face para oferecer”,
comprova Rigoberta. Recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1992. (Eduardo Galeano, O século do vento. Memória
do fogo, vol. 3, L&PM Pocket vol. 909, 2010, p. 342-343)
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