São Salvador, 24 de março de
1980. Às 18:30, enquanto celebrava a eucaristia, cai assassinado Oscar Arnulfo
Romero, arcebispo da capital.
Oscar Romero nasceu na cidade
Barrios, de uma família mestiça, e havia amadurecido a vocação presbiteral
depois de ter sido carpinteiro na vila onde havia crescido. Terminou seus
estudos em Roma, durante a segunda guerra mundial. Voltou à sua pátria, onde
recebeu responsabilidades cada vez maiores na Igreja salvadorenha.
Quando morreu o arcebispo Luis
Cháver y Gozalez, grande defensor dos pobres e oprimidos, a arquidiocese de San
Salvador estava dividida. Romero foi nomeado como sucessor de Cháver y Gozalez,
motivo de grande satisfação dos setores conservadores da sociedade, que o
consideravam homem de uma espiritualidade inócua e desencarnada.
Mas no contexto da dramática
situação política e social do seu país, Dom Romero começou a denunciar
corajosamente as injustiças e violências padecidas pelos agricultores e demais
pobres de El Salvador, confrontando a realidade quotidiana com o Evangelho e
suas exigências.
Promotor do diálogo e da
reconciliação na Igreja e no país, sua popularidade cresceu muito nos três anos
de pastoreio frente à arquidiocese. Mas, ao mesmo tempo, atraiu a hostilidade
dos poderosos e inclusive de parte da hierarquia católica do seu país.
Fiel ao seu lema episcopal (‘sentir
com a Igreja’), Romero se empenhou até o dom da própria vida para promover uma
profunda conversão do corpo eclesial, único caminho que pode habilitar a Igreja
a denunciar as injustiças do mundo.
Eis alguns trechos das suas
homilias: "Peço ao Senhor, durante toda a semana,
enquanto vou recolhendo o clamor do povo e a dor de tanto crime, a ignomínia de
tanta violência, que me dê a palavra oportuna para consolar, para denunciar,
para chamar ao arrependimento. Eu denuncio, sobretudo, a absolutização da
riqueza. Este é o grande mal de El Salvador: a riqueza, a propriedade privada
como um absoluto intocável. E ai daquele que toque nessa cerca de alta tensão! Se
queima! Vivemos em uma falsa ordem baseada na repressão e no medo. Roubar
tornou-se comum. E aquele que não rouba é chamado de tonto. Brinca-se com o
povo; brinca-se com as votações; brinca-se com a dignidade das pessoas. Estamos
em um mundo de mentiras, onde ninguém acredita em nada".
(Comunità de Bose, Il
libro dei testimoni, San Paolo, Milano, 2002, p. 165-166)
Nenhum comentário:
Postar um comentário