Quero celebrar o Dia Internacional
da Mulher e homenagear esta graciosa metade da humanidade com uma
espécie de panteão no qual recordo, dia após dia, o nome, a história e a
grandeza humana de algumas mulheres pouco reconhecidas pela história e pelas
colunas sociais. São simples e breves flashes
de vidas muito mais belas e complexas, uma espécie de retalhos da vida, tomados
emprestados da inspirada pena do escritor uruguaio Eduardo Galeano. E começo
pedindo emprestado os versos de Ivone Boechat:
“Um aroma suave
/ exalou das mãos do Criador, / quando seus olhos / contemplaram / a solidão do
homem no Jardim! / Foi assim: / o Senhor desenhou / o ser gracioso, meigo e
forte, / que Sua imaginação perfeita produziu. / Um novo milagre: / fez-se
carne, / fez-se bela, / fez-se amor, / fez-se na verdade como Ele quer! / O
homem colheu a flor, / beijou-a, com ternura, / chamando-a, simplesmente, / Mulher!”
Às suas costas,
um abismo. À sua frente e aos lados, o povo armado acossando. Em 1979, o
quartel A pólvora, na cidade de
Granada, último reduto da ditadura de Somoza, está a ponto de cair.
Quando o coronel
fica sabendo da fuga de Somoza, manda calar as metralhadoras. Os sandinistas
também deixam de disparar. Pouco depois abre-se o portão de ferro do quartel e
aparece o coronel agitando um trapo branco. “Não disparem”, gritava ele. O
coronel atravessa a rua. “Quero falar com o comandante!”
Cai o lenço que
lhe cobre a cara: “A comandante sou
eu”, diz Mônica Baltodano, uma das mulheres sandinistas com comando de tropa. “O
quê?!”
Pela boca do
coronel, macho altivo, fala a instituição militar, vencida mas digna,
hombridade de calças compridas, honra da farda. “Eu não me rendo a uma mulher”, ruge o
coronel. E se rende... (Eduardo Galeano, O
século do vento. Memória do fogo, vol. 3, L&PM
Pocket vol. 909, 2010, p. 336)
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