quinta-feira, 29 de outubro de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | SOLENIDADE DDE TODOS OS SANTOS | 01.11.2020

A santidade cristã não passa ao largo das lutas humanas!

No dia 30 de outubro recordávamos o martírio de Santo Dias da Silva, líder cristão, operário e militante sindical. No dia 31, a páscoa definitiva de Martinho Lutero, monge católico que, há exatamente 500 anos, expôs seu sonho e sua reivindicação de uma Igreja mais evangélica. Dois homens sensíveis ao próprio tempo que, em diferentes circunstâncias, sonharam e lutaram por uma sociedade mais justa e uma Igreja mais fiel a Jesus Cristo. Dois cristãos que tinham fome e sede de justiça e sofreram perseguição. Será que eles não fazem parte da multidão de servos/as de Deus, cujas frontes foram marcadas com o sinal do Cordeiro?

A verdadeira santidade se manifesta na vida dos/as missionários/as, das pessoas que ousam sair do estreito limite dos seus próprios  interesses e se aproximam solidariamente dos últimos; que tecem pacientemente os fios que fazem do mundo inteiro uma única família; que vão aos rincões mais distantes ou periféricos para levar a bandeira da paz; que são movidas por uma insaciável sede de justiça; que choram as dores dos povos de todas as cores e provam o fel da violência e da perseguição; que transformam a terra pela mansidão.

Início do milênio, João Paulo II nos provocava a não nos contentar-nos com pequenas medidas, com voos rasantes, com ideais nanicos, e pedia que aspirássemos nada menos e nada mais que a santidade. Esta vocação de todos/as precisa se transformar em desejo pessoal e em decisões e ações concretas. Como diz São João, nós somos chamados filhos/as de Deus e já o somos desde agora, mas precisamos crescer na identificação com Jesus Cristo, gravar no corpo as marcas do sonho que mobilizou e deu sentido à vida dele.

O Papa Francisco nos diz que “a santidade é o rosto mais belo da Igreja”, e que não podemos imaginar nossa missão na terra sem a conceber “como um caminho de santidade”. Mas “não podemos nos propor um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo, onde alguns festejam, gastam folgadamente e reduzem sua vida às novidades do consumo, ao mesmo tempo em que outros se limitam a olhar de fora enquanto sua vida passa e termina miseravelmente”.  Para ele, “ser santo/a não significa revirar os olhos num suposto êxtase prescindindo do reconhecimento vivo da dignidade humana”. Por isso, somos chamados a “ver a santidade no povo paciente de Deus”, a “classe média da santidade” (cf. Exortação Gaudete et Exsultate).

Jesus Cristo é por excelência o santo de Deus e, ao mesmo tempo, o caminho para a santidade. Não há santidade à margem do seguimento de Jesus Cristo. Realizar a vocação à santidade é refazer o caminho trilhado por Jesus: amar como Jesus amou; sonhar como Jesus sonhou; pensar como Jesus pensou; viver como Jesus viveu. Este é o caminho para que, no meio ou no fim do dia ou da vida, sejamos felizes. Nas bem-aventuranças Jesus propõe o caminho de santidade e da felicidade que ele mesmo percorreu demarcando oito sinais ou aspectos importantes e essenciais dessa caminhada.

As bem-aventuranças, cuja vivência o Papa Francisco toma como marcas visíveis da santidade, apresentam oito características da pessoa que percorre este caminho. Esta via começa com a pobreza e termina com a perseguição, pois o Reino de Deus é dos pobres e dos perseguidos, a consolação é para os aflitos, a herança é para os mansos, a saciedade é para os famintos, a misericórdia é para os compassivos, a visão de Deus é para os puros de coração e a filiação divina é para os promotores da paz é promessa para o futuro, mas a alegria sem fim do Reino é experiência concreta dos pobres e dos perseguidos já no presente!

A santidade à qual todos/as somos chamados/as tem a fisionomia do discipulado missionário, do despojamento solidário; tem o coração dos que se afligem e choram compassivamente as dores dos outros; tem o ritmo inquieto dos que anseiam e pela justiça plena e universal; tem o olhar terno e puro da misericórdia; a ousadia daqueles/as que promovem tem a paz; e tem a indestrutível alegria de quem assume o custo de ser livre e libertador. Os santos/as são beatos/as, ou seja: pessoas plenamente felizes. O caminho da santidade e o caminho para a felicidade coincidem e se mostram, inclusive, no bom humor.

Deus pai e mãe, fonte de toda santidade: aqui vimos te pedir a graça de ficar de pé diante do teu Filho, rodeados de testemunhas de todas as nações, tribos, raças e línguas. Ajuda-nos a superar a doce tentação de separar, catalogar e hierarquizar católicos e evangélicos, cristãos e não-cristãos. Que a inexplicável alegria em meio às intermináveis lutas seja nossa arma e nosso triunfo. E que vejamos os santos e santas mais como testemunhas de um amor sem limites que como mediadores dos nossos interesses. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Livro do Apocalipse 7,2-4.9-14 | Salmo 23 (24)

Primeira Carta de São João 3,1-3| Evangelho de São Mateus 5,1-12

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