A missão nos tira da comodidade e nos leva às periferias!
O sonho de Deus é que
a vida do seu povo seja uma festa sem convidados prioritários. Uma leitura
desatenta da parábola do evangelho de hoje poderia nos levar a uma ideia
diferente, mas, para entendê-la corretamente, não podemos esquecer que ela faz
parte do mesmo conjunto literário das duas parábolas anteriores (Mt 21,18-32;
21,33-46). E o foco deste conjunto literário é a rejeição da proposta de Jesus
por parte da elite religiosa do judaísmo, de modo que essas parábolas têm esta
elite como destinatária.
Jesus frequentemente
compara a alegre novidade do Reino de Deus com uma festa. Mas, olhando para o
que acontece ao seu redor, ele constata que nem todas as pessoas e grupos
aceitam o convite e participam. E percebe que alguns, quando aceitam, o fazem
da boca para fora, por pura formalidade e conveniência. Assim acontece com as
lideranças religiosas do seu tempo: não lhes agrada a aliança de Deus com a
humanidade e, por isso, não dão a menor atenção ao convite que lhes é dirigido
por Jesus. Preferem ficar com as leis e ritos que dividem e classificam as
pessoas em boas ou más, judias e pagãs, filhos e cães.
Comer e beber juntos
na mesma festa significa comungar dos propósitos de Deus, e é isso que fariseus
e escribas não aceitam. E de nada lhes serve um segundo convite. Os líderes
religiosos não conseguem ver sentido nestas festas que não impõem barreiras,
que são abertas a todas as pessoas. Até que participariam de uma festa, desde
que fossem os convidados de honra, e com o objetivo de celebrar o poder e o
privilégio de alguns. Mas o convite à festa do Reino é universal: todos os
povos, todas as classes sociais, todas as pessoas. No pensamento de Deus, o mundo é inclusivo,
há lugar para todos na festa da vida.
Eis o dinamismo da
missão que é também hoje confiada à Igreja: anunciar e demonstrar que a festa
da vida é desejada e está preparada, e fazer este convite chegar a todas as
pessoas, povos e classes. Por isso, não é sem sentido sair “para as encruzilhadas
dos caminhos”. Encruzilhadas são lugares onde os pobres se reúnem para
mendigar, pois a vergonha e a pressão social os empurram para as margens. Mas o
convite de Deus para a festa da vida precisa chegar até eles. É tomando nesta
direção que a missão da Igreja se mostra autêntica.
Mesmo que o convite
não comporte nenhuma forma de exclusão, na festa da vida não se pode entrar de
qualquer jeito. Quem faz o convite não discrimina ninguém: convida bons e maus,
judeus e pagãos, homens e mulheres, escravos ou senhores, negros ou brancos,
europeus ou africanos... Esta é a tarefa confiada aos missionários/as. Mas as
pessoas que comparecem à festa precisam se perguntar se, por suas atitudes,
opções e práticas, honram o anfitrião; precisam usar a roupa adequada, ou seja,
a prática da justiça.
Os missionários e
evangelizadores não dispõem de meios potentes e infalíveis, e precisam contar
com algo mais importante que suas próprias forças e estratégias. Eles sabem que
são pessoas como todas as outras, com as mesmas fragilidades e pecados; apenas
não se conformam com a passividade e a indiferença, e acham que vale a pena
fazer o convite de Deus chegar a todos os destinatários e abrir as portas da
vida a eles. E isso mesmo que, às vezes, aqueles que aceitam o convite e
comparecem à festa litúrgica, acabem encontrando leis, barreiras e
arbitrariedades criadas pela própria Igreja, que se organiza como alfândega.
Como diz Paulo, os/as
missionários/as precisam aprender viver na penúria e na abundância, confiando
que Deus, segundo sua generosidade, em Cristo Jesus, proverá magnificamente a
todas as suas necessidades. “Tudo posso naquele que me dá força”, diz o
apóstolo. E isso significa que os/as missionários/as do Reino de Deus não podem
contar apenas com os recursos do próprio saber, das técnicas de comunicação e
das estruturas eclesiais. A força e a lucidez indispensáveis para construir o
Reino vêm de Deus, da Palavra, dos sacramentos. E, não menos, do próprio povo ao
qual eles/as anunciam a Boa Notícia do Reino de Deus. O Papa Francisco nos diz
que a missão está no coração da fé cristã e nos coloca em contínua saída.
Deus, pai e mãe, desde sempre preparas a festa da vida
e esperas que todos os povos tomem um lugar à tua mesa. Continua e enviar
mensageiros/as e missionários/as, a fim de que este convite chegue aos
destinatários, especialmente aos porões, quintais e encruzilhadas do mundo,
onde as pessoas que são tratadas como últimos estão à espera. Guia os/as teus/tuas enviados/as e restaura
as forças deles/as. Abre a mente e o coração das pessoas convidadas, e faz com
que tua Igreja mantenha abertas suas portas e janelas a todos os povos,
culturas e classes sociais, sem levantar barreiras nem impor condições. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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