quinta-feira, 29 de outubro de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 01.11.2020

A FELICIDADE DE JESUS

Não é difícil traçar o perfil de uma pessoa feliz na sociedade que Jesus conhecia. Seria um homem adulto e saudável, casado com uma mulher honesta e fértil, com filhos do sexo masculino e terras ricas, cumpridor da religião e respeitado na sua cidade. O que mais se podia pedir?

Certamente não era este o ideal que animava e guiava Jesus. Sem esposa nem filhos, sem-terra nem bens, percorrendo a Galileia como um vagabundo, a Sua vida não respondia a nenhum tipo de felicidade convencional. O Seu modo de vida era provocador. Se era feliz, era-O de forma contracultural, ao contrário do estabelecido.

Na verdade, Jesus não pensava muito na Sua felicidade. Sua vida girava mais em torno de um projeto que o entusiasmava e o fazia viver intensamente. Chamava-lhe «reino de Deus». Aparentemente, era feliz quando podia fazer os outros felizes. Sentia-se bem a devolver às pessoas a saúde e a dignidade. Sentia-se bem restaurando as pessoas para a saúde e a dignidade que lhes tinha sido arrebatada injustamente.

Jesus não procurava o próprio interesse. Vivia criando novas condições de felicidade para todos. Não sabia ser feliz sem incluir os outros. A todos propunha critérios novos, mais livres e radicais para criar um mundo mais digno e feliz.

Jesus acreditava num Deus feliz, o Deus criador que olha para todas as suas criaturas com amor profundo, o Deus amigo da vida e não da morte, mais atento ao sofrimento das pessoas do que aos seus pecados.

A partir da fé nesse Deus, Jesus quebrava os esquemas religiosos e sociais. Não pregava: «Felizes os justos e piedosos, pois receberão o prêmio de Deus». Não dizia: «Felizes os ricos e poderosos, porque contam com a sua bênção». O Seu grito era desconcertante para todos: «Felizes os pobres, porque Deus será a sua felicidade».

O convite de Jesus vem dizer mais ou menos isso: «Não procurem a felicidade na satisfação dos próprios interesses ou na prática interesseira da religião. Sejam felizes trabalhando de forma fiel e paciente por um mundo mais feliz para todos».

José Antonio Pagola

(Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez)

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