quarta-feira, 14 de outubro de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | VIGÉSIMO-NONO DOMINGO | 18.10.2020

A luta social e política pela justiça faz parte da missão!

As comunidades católicas rezam hoje pelas missões, pelos seus missionários e missionárias. Estes homens e mulheres abrasados pela fé, fortalecidos pela esperança e seduzidos pelo desafio de ultrapassar fronteiras não são entidades de outro planeta, nem pessoas espiritualmente superiores a nós. Como Jesus, os/as missionários/as são pessoas que não tomam partido em favor dos familiares, compatriotas ou partidários. São pessoas que têm lucidez e coragem para defender os direitos dos pequenos.

Depois da parábola do banquete, na qual Jesus afirma que as elites de Israel recusam o convite gratuito de Deus, eles não parecem mais interessados em responder ou discutir com Jesus: retira-se para conspirar e planejar um ataque contra Ele. Com ironia, hipocrisia e cinismo, os doutores da lei, escribas e herodianos preparam uma armadilha para surpreender Jesus e, assim, obter as provas que necessitam para a condenação. A ironia e o cinismo ficam evidentes nos elogios dirigidos a Jesus pelos seus emissários.

Mesmo sem querer, nos elogios irônicos que lhe dirigem a Jesus, seus adversários apresentam o perfil verdadeiro e inatacável de Jesus. Ele é um profeta que não se sente inibido na sua opção pelos pobres, nem frente à pressão dos poderosos; não abandona os caminhos de Deus, mesmo diante das alternativas que oferecem sucesso e êxito; não foge das questões espinhosas, nem apela à neutralidade política, a uma indefinida vida interior ou às coisas da alma; sabe distinguir o reconhecimento e a adesão humilde à sua proposta dos elogios falsos, interesseiros e enganadores.

O que está em discussão no evangelho deste domingo não é a simplória questão de pagar ou não pagar impostos. O que as elites querem saber é se, diante do poder opressivo dos impérios, Jesus e seus discípulos são colaboradores ou subversivos; se mantém sua profecia ou abaixam a cabeça e calam a boca, deixando os fracos à sua própria sorte; se o projeto de Deus entra na história ou se dirige apenas ao coração e a uma fé privatizada e intimista. De qualquer modo, a questão a relação entre fé e política.

O tributo imposto e cobrado dos povos colonizados pelo império romano era um meio de subjugá-los, e a própria moeda servia como estratégia de propaganda do imperador e de afirmação do seu status divino. Para os judeus mais piedosos, a simples apresentação da imagem do imperador gravada na moeda provocava indignação, pois era um sinal da tentativa de divinizá-lo. Diante da prova da moeda, Jesus não se submete à fácil solução de separar fé e política, poder temporal e crítica profética. Sua resposta sábia e corajosa é mais um caminho que uma evasiva: “Devolvam a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”

A conclusão de que, com isso, Jesus estaria afirmando que a fé não tem nada a dizer sobre a esfera política, mesmo sobre um poder opressor, é puro preconceito e ideologia escapista, sem nenhuma base exegética. É esse o velho argumento dos apoiadores dos governos de direita, de Vargas a Bolsonaro, disfarçando o cínico apoio de pastores interesseiros a um governo intrinsecamente corrupto. O que Jesus faz é pedir que se devolva ao imperador a moeda, instrumento de propaganda e de exploração, e que se reserve a Deus a vida e a dignidade do seu povo. Na sua mensagem para hoje, o Papa Francisco lembra que a Igreja é convocada a “prolongar na história a missão de Jesus, e envia-nos por toda a parte”, inclusive à arena social e política.

Com essas palavras, Jesus contextualiza e relativiza o poder colonialista e a lealdade às autoridades. Sem recorrer à violência, e falando em nome de Deus, Jesus exercita a profecia e subverte a ordem estabelecida. Isso nos lembra que profecia, a justiça e a promoção humana são intrínsecas à missão.  Precisamos desenvolver a atitude de discípulos missionários que tenham coração grande para amar e forte para lutar. Com Paulo, dizemos: “Nos lembramos sempre da fé viva, do amor capaz de sacrifícios e da firme esperança de vocês. Sabemos que vocês foram escolhidos por Jesus Cristo.”

Deus pai e mãe, dá-nos coragem e sabedoria para relativizar todos os poderes, inclusive os poderes religiosos, e subordiná-los ao serviço à vida. Ajuda tua Igreja a assumir, em tempos de pandemia, sem medo e sem reticências, a encarnação do Evangelho do teu Filho na política, na economia e na sociedade, colaborando na edificação de um país justo e solidário. E não permitas que teus filhos e filhas se cansem de testemunhar com clareza, de servir com amor, de dialogar com humildade e de anunciar o Evangelho com intrepidez. Esta é a missão que nasce da pergunta, a quem enviarei?”, como nos lembra o Papa Francisco. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Livro do êxodo 22,20-26 | Salmo 17 (18)

Carta de Paulo aos Tessalonicenses 1,5-10 | Evangelho de São Mateus 22,34-40

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