quarta-feira, 21 de outubro de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | TRIGÉSIMO DOMINGO | 25.10.2020

O amor a Deus e ao próximo são duas faces da mesma moeda.

Quem não gosta de celebrações criativas e vibrantes? E quem não se encanta com a aventura do mergulho cada vez mais profundo no antigo e sempre novo, fascinante e terrível Mistério de Deus? Quem não se sente chamado/a a amá-lo como como somos amados/as? Mas essa experiência de um Deus que nos ultrapassa infinitamente e nos ama incondicionalmente não tolera a indiferença aos nossos irmãos e irmãs, às suas dores e esperanças. Jesus une o amor a Deus e o amor ao próximo, como dois trilhos da mesma ferrovia.

Mateus nos relata o esforço quase desesperado dos fariseus para fazer Jesus tropeçar em algum ponto da doutrina religiosa e moral do judaísmo. Eles já o haviam provocado com a questão dos impostos devidos ao império romano. Tinham notícia também de como Jesus havia enfrentado a armadilha preparada pelos saduceus, em torno da questão da ressurreição dos mortos. E agora voltam com uma questão de doutrina religiosa e de espiritualidade: qual é a hierarquia dos mandamentos, qual deles é o mais importante?

É claro que os fariseus não querem aprofundar o conhecimento sobre Deus e seu Reino. O que eles procuram insistentemente é um motivo para rejeitar globalmente o ensino de Jesus e tirá-lo de circulação. E quando perguntam qual é o maior mandamento da lei, querem dar a entender que os mandamentos são muitos, e a definição do mais importante é uma operação teológica complicada e arriscada. Os mandamentos seriam vários, e não teriam um eixo que os moveriam e em torno do qual girariam.

Jesus não se intimida, e responde à pergunta provocadora com serenidade e clareza. “Ame o Senhor seu Deus com todo teu coração, com toda tua alma e com todo tua inteligência. Este é o primeiro e grande mandamento.” Ao dar essa resposta, parece que Jesus se conforma à expectativa dos seus interlocutores e opositores, e não deixa margem a qualquer crítica ou desconfiança. Entretanto, mais que uma resposta estratégica, a resposta de Jesus é uma afirmação que vai ao centro da questão religiosa e nos desafia.

Em primeiro lugar, parece que Jesus dá a entender que se trata de amar a Deus, mas não se trata de amar de qualquer maneira. Ele não propõe um amor simplesmente sentimental ou voluntarista. Jesus sublinha que nos é pedido um amor lúcido, racionalmente orientado (com toda tua mente); um amor encarnado na vida e nos gestos cotidianos (com toda tua alma); e um amor decidido, sensível e humano (com todo teu coração). Este amor está a quilômetros de distância de um mero sentimento que se desfaz em lágrimas diante das catástrofes, mas mergulha na indiferença diante da opressão e dos golpes feitos em nome da moralidade.

O que Jesus nos propõe com este mandamento ‘primeiro e central’ é uma vida integralmente centrada em Deus e na sua vontade. E isso é muito mais que amar a Deus como um entre os muitos objetos ou sujeitos que podem realizar nossos desejos. Amar desse modo significa ter Deus e o seu Reino como a referência absolutamente central das nossas opções, práticas e projetos. Deus não pode ser simplesmente uma pedra entre outras na construção, mas a arquitetura que a define e o alicerce que a sustenta.

Mas Jesus não se detém na resposta aprovada pela ortodoxia e esperada pelos líderes do judaísmo. Ele surpreende a todos dizendo que há um segundo mandamento, com o mesmo valor e inseparável do mandamento primeiro e central: “Ame o seu próximo como a si mesmo.” Esse mandamento era conhecido pelos fariseus e doutores da lei, mas eles – como muitos de nós – jamais o colocariam no mesmo nível de importância do amor a Deus. Isso soaria como uma heresia secularista do modernismo.

Para não deixar dúvidas, Jesus afirma, de forma lapidar, que todas as escrituras se resumem e realizam nesses dois mandamentos. A vontade de Deus, aquela vontade que em cada oração do Pai-Nosso pedimos que seja realizada, se concretiza num amor terno, lúcido e firme dirigido ao mesmo tempo a Deus e aos nossos semelhantes, especialmente àqueles que se encontram socialmente e humanamente mais fragilizados. E é daqui que parte também toda profecia, missão hoje tão urgente quanto complexa.

Deus pai e mãe, amor que envia e sustenta missionários que dedicam a própria vida para recordar que o amor a ti e ao próximo vão sempre de mãos dadas: te agradecemos porque suscitas pessoas que, sustentadas por teu amor, dão o melhor de si mesmas para anunciar a Palavra associada à alegria do Espírito e para que os mais pobres possam viver dignamente. Que teu santo Espírito ajude a Igreja a recriar e anunciar esta Evangelho como boa notícia que aproxima os seres humanos e os faz “tutti fratelli”. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Livro do êxodo 22,20-26 | Salmo 17 (18)

Carta de Paulo aos Tessalonicenses 1,5-10 | Evangelho de São Mateus 22,34-40

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