quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 18.10.2020

A VIDA PERTENCE UNICAMENTE A DEUS

A exegese moderna não deixa lugar a dúvidas. Para Jesus, a vida, e não a religião, está em primeiro lugar. Basta  analisar com um mínimo de atenção a trajetória da atividade de Jesus. Vê-se que ele está sempre preocupado em suscitar e desenvolver, no meio daquela sociedade, uma vida mais sã e digna.

Pensemos na  atuação de Jesus em relação aos doentes: Jesus aproxima-se de quem vive a sua vida de forma diminuída, ameaçada ou insegura para despertar neles uma vida mais plena. Pensemos na Sua aproximação dos pecadores: Jesus oferece-lhes o perdão que os faz viver uma vida mais digna, resgatada da humilhação e do desprezo. Pensemos também nos endemoniados, incapazes de ser donos da própria existência: Jesus os liberta de uma vida alienada e desequilibrada pelo mal.

Como sublinhou Jon Sobrino, pobres são aqueles para os quais a vida é uma carga pesada, pois não podem viver com um mínimo de dignidade. Essa pobreza é o oposto do plano de vida original do Criador. Onde um ser humano não pode viver com dignidade, aí a criação de Deus aparece como viciada e anulada.

Por isso, Jesus se preocupa tanto com a vida concreta dos camponeses da Galileia. A primeira coisa que necessitam aquelas pessoas é viver, e viver com dignidade. Certo, esta não é a meta final, mas é agora o mais urgente. Jesus os convida a confiar na salvação última que vem do Pai, mas o faz salvando as pessoas de males e aliviando suas doenças e sofrimentos. Anuncia-lhes a felicidade definitiva, no seio de Deus, mas faz isso introduzindo dignidade, paz e felicidade neste mundo.

Por vezes, nós apresentamos nossa fé com uma tal confusão de conceitos e palavras que, na hora da verdade, poucos entendem  o que é exatamente o reino de Deus do qual fala Jesus. No entanto, as coisas não são tão complicadas. A única coisa que Deus quer é isto: uma vida mais humana para todos desde agora, uma vida que alcance a sua plenitude na vida eterna. Por isso, não há que dar a nenhum César ou imperador de plantão o que pertence unicamente a Deus: a vida e a dignidade dos Seus filhos e filhas.

José Antonio Pagola

(Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez)

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