A VIDA PERTENCE UNICAMENTE A DEUS
A exegese moderna não deixa lugar a dúvidas. Para Jesus, a vida, e não a religião, está em primeiro lugar. Basta analisar com um mínimo de atenção a trajetória da atividade de Jesus. Vê-se que ele está sempre preocupado em
suscitar e desenvolver, no meio daquela sociedade, uma vida mais sã e digna.
Pensemos na atuação de Jesus em relação aos doentes: Jesus aproxima-se de quem vive a sua vida de forma diminuída, ameaçada
ou insegura para despertar neles uma vida mais plena. Pensemos na Sua
aproximação dos pecadores: Jesus oferece-lhes o perdão que os faz viver uma
vida mais digna, resgatada da humilhação e do desprezo. Pensemos também nos
endemoniados, incapazes de ser donos da própria existência: Jesus os liberta de uma
vida alienada e desequilibrada pelo mal.
Como sublinhou Jon Sobrino, pobres
são aqueles para os quais a vida é uma carga pesada, pois não podem viver com um
mínimo de dignidade. Essa pobreza é o oposto do plano de vida original do
Criador. Onde um ser humano não pode
viver com dignidade, aí a criação de Deus aparece como viciada e anulada.
Por isso, Jesus se preocupa tanto com a vida concreta dos camponeses da
Galileia. A primeira coisa que
necessitam aquelas pessoas é viver, e viver com dignidade. Certo, esta não é a meta
final, mas é agora o mais urgente. Jesus os convida a confiar na salvação
última que vem do Pai, mas o faz salvando as pessoas de males e aliviando suas doenças e
sofrimentos. Anuncia-lhes a felicidade
definitiva, no seio de Deus, mas faz isso introduzindo dignidade, paz e
felicidade neste mundo.
Por vezes, nós apresentamos nossa fé com uma tal confusão de conceitos e palavras que, na hora da verdade, poucos
entendem o que é exatamente o reino de Deus do qual fala Jesus. No
entanto, as coisas não são tão complicadas. A
única coisa que Deus quer é isto: uma vida mais humana para todos desde
agora, uma vida que alcance a sua plenitude na vida eterna. Por isso, não há
que dar a nenhum César ou imperador de plantão o que pertence unicamente a Deus: a vida e a
dignidade dos Seus filhos e filhas.
José Antonio Pagola
(Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez)
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