terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Venha, Senhor, o teu Reino

Venha, Senhor, o teu Reino, para que a festa da vida seja plena | 551 |04. 12.2024 | Mateus 15,19-37

A espiritualidade do advento é a lente que devemos usar para ler e meditar os textos bíblicos indicados para as celebrações deste tempo litúrgico. É o advento que ajusta nosso ouvido e nosso olhar para reconhecermos a “visita” de Deus em trajes humanos de pobreza, de simplicidade, de proximidade. E nos sensibiliza e nos abre ao sonho, à esperança, à generosidade.

No trecho do Evangelho que meditamos hoje, o evangelista nos apresenta Jesus em plena ação missionária, antecipando a festa dos pequenos, a festa que celebra a preciosidade da vida dos pobres, a festa que celebra a irrupção do Reino de Deus. Na montanha, lugar de reunião e de encontro, de revelação e de aliança, Jesus cura as pessoas machucadas pela sociedade e pela vida, e alimenta os famintos. Ali se concretiza a “filantropia” de Deus, esperada sinalizada no Natal de Jesus.

Nesta cena, o evangelista nos mostra que a festa da vida, sonhada e esperada, não se realiza no templo, como esperavam e apregoavam os sacerdotes e doutores da lei, mas no encontro com Jesus nas margens. E os protagonistas não são as pessoas piedosas ou poderosas, mas aquelas que são jogadas nas margens da convivência social e do espaço religioso. O objetivo de Jesus é ajustar nosso olhar para que sejamos capazes de ver as necessidades dos outros e ser compassivos.

De fato, o que move Jesus em seu falar e em seu agir é a compaixão. E a compaixão não é um sentimento ocasional, mas uma força que coloca a dor e a vida dos outros acima e antes de tudo. É esta compaixão vivida por Jesus em todas as relações que atrai a ele as pessoas pobres e “estropiadas”. É esta compaixão que ele quer despertar em todos os seus discípulos missionários, pois é ela que nos ajuda a encontrar soluções humanas para os problemas humanos.

O pão que alimenta a multidão é fruto direto da compaixão e resultado da superação do egoísmo dos discípulos e discípulas. Aqueles que o possuem, mesmo em pouca quantidade, cedem a prioridade a quem tem maior necessidade. É esse o sentido profundo do Natal: Deus ama o mundo com tal intensidade que envia a ele seu Filho. Seja este o Natal que nos empenhamos em preparar. Que a montanha do egoísmo seja rebaixada, que os vales que separam os fartos dos famintos sejam aterrados.

 

Meditação:

§  Faça um esforço para recriar a cena, colocando-se entre os personagens, contracenando e dialogando com eles

§  Como repercute em você a declaração de Jesus “Tenho compaixão desse povo que não tem nada para comer”?

§  Participe das ações de Jesus e da alegria incontida e do louvor a Deus que brota da boca das pessoas curadas e alimentadas

§  O que isso tem a ver conosco, com a preparação e a celebração do Natal que se aproxima?

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Deus é amor que se faz pequeno

Deus é amor que se faz pequeno, e os humildes o reconhecem | 550 |03. 12.2024 | Lucas 10,21-24

A espiritualidade do advento são os óculos que devemos usar para ler e entender os textos bíblicos sugeridos à nossa meditação e oração neste período tão intenso da vida litúrgica. E estes óculos dirigem nosso olhar para os pequenos sinais, para os grandes sonhos, para a preparação e a acolhida de algo novo e determinante para nossa vida e para a história, que está acontecendo sutilmente no mundo.

O pequeno trecho do evangelho de Lucas que hoje nos ilumina e alimenta é o coração da sua obra: a reação jubilosa e calorosa de Jesus à breve ação missionária dos setenta e dois discípulos e discípulas. Neles, Jesus vê a abertura e a disponibilidade à novidade libertadora de Deus. Com isso, Jesus nos chama à simplicidade, à abertura e ao discernimento que nos fazem capazes de reconhecer e acolher o “Deus Pequeno” que nos vem morar entre nós e ser nosso companheiro e libertador.

Jesus se defrontou com a arrogância e a autossuficiência dos líderes religiosos e das elites culturais, sociais e econômicas do seu tempo. Elas tendiam a manipular o nome a imagem de Deus em benefício deles mesmos e contra as pessoas simples. Por isso, Jesus diz que o Deus verdadeiro, o Pai seu e nosso, decidiu conscientemente não se revelar aos membros dessas elites, mais ainda, que Deus esconde a eles seu rosto.

Jesus conhecia também a profundidade e a sinceridade da fé das pessoas simples e humildes. Elas não são eticamente superiores a ninguém, mas estão em condições de reconhecer e acolher com alegria a revelação de Deus, porque essa revelação não é um saber, mas uma capacidade de amar e servir. Essa revelação não nos faz mais sabidos, mas mais dóceis e generosos. E se a docilidade e a generosidade vêm de Deus, não são mérito de ninguém e não conhecem limites.

Jesus exulta profundamente diante desse duplo movimento conscientemente desejado por Deus: revelar seu rosto e o mistério da sua vontade aos pequenos e humildes e escondê-los aos sábios e arrogantes. E associa seus discípulos a essa revelação, pois eles o seguem e nele acreditam. Jesus sabe tudo dos mistérios do Pai, e o Pai o ama e confia nele. E é no encontro vivo e missionário com Jesus, e não com a lei ou com o templo, que alcançamos a salvação, chegamos a ser pessoas plenamente livres e realizadas. Sigamos pelo caminho dos pequenos e humildes.

 

Meditação:

§  Leia atentamente esta cena e estas palavras de Jesus, relacionando-as com o conjunto do seu ensinamento

§  A espiritualidade do advento nos oferece uma perspectiva muito própria para a escuta e a compreensão do Evangelho

§  Este tempo nos convida à vigilância do porteiro, à escuta despojada, à atenção aos pequenos sinais

§  Quem conhece suas atitudes, dirá que você está entre os sábios e doutores ou entre os simples e humildes?

domingo, 1 de dezembro de 2024

Senhor, tua palavra se faz carne e cura todas as paralisias

Senhor, tua palavra se faz carne e cura todas as paralisias sociais | 549 |02. 12.2024 | Mateus 8,5-11

Depois d e apresentar a primeira etapa do processo de formação que Jesus oferece aos seus discípulos, Mateus inicia a fase narrativa de seu evangelho, descrevendo o Reino de Deus em ação. Também nisso Jesus forma e educa e orienta seus discípulos missionários. Ontem, iniciando o advento, ouvíamos Jesus sublinhar que a figura desse mundo injusto passa, e há sinais de novidade no ar.

Mateus nos mostra como Jesus derruba os muros e atravessa as fronteiras nacionais, étnicas, religiosas e sociais. E faz isso evitando os centros de poder e deslocando-se sempre em direção às margens e periferias sociais. Ele usa os meios da Palavra e do toque, da compaixão e da misericórdia, sem recorrer a ações para impressionar. São ações que beneficiam os necessitados, e não subjugam ninguém.

No início da cena de hoje se confrontam dois reinos (o romano e o de Deus) e duas etnias (os judeus e os pagãos). Nos versículos finais também são colocadas frente a frente duas classes (um chefe militar e uma mulher sem nome). O escravo do oficial romano é um homem sem voz, que não conta para nada, e Jesus faz por ele o que império romano não faz, e corrige aquilo que a dominação provoca.

A figura do oficial romano é ambivalente, pois ele faz parte da estrutura de violência do império romano, mas, ao mesmo tempo, é um pagão, e, como tal, é desprezado pelos judeus. Pela confiança radical na força libertadora da pessoa e da Palavra de Jesus para curar alguém tratado por ele como simples propriedade, este oficial chama a atenção e suscita o elogio de Jesus. A atitude desse pagão inspira a vida cristã. A fé desse soldado pagão é exemplo até para os judeus mais piedosos, e para os cristãos mais engajados. Em cada missa, repetimos suas palavras com o desejo de assimilar sua atitude. “Senhor, eu não sou digno que entres em minha casa, mas uma palavra tua basta para curar-me”.

Iniciando a caminhada de preparação para a celebração litúrgica do nascimento de Jesus, também nós somos convidados a acolher essa Palavra que ilumina, forma, guia e cura. Ela é que nos trará vida e felicidade. Sua palavra abre portas e constrói pontes para reunir a humanidade numa só família. Não a substituamos pelo “bom velhinho” e seu saco de presentes! Ele não passa de fantasia e estratégia comercial...

 

Meditação:

§  Preste atenção na atitude, nos gestos e nas palavras do oficial romano: ele pede em favor de um escravo, que é uma das suas propriedades, que e talvez ele mesmo tenha torturado, conforme facultava a lei da escravidão

§  O oficial expressa sua fé na força da Palavra e da compaixão de Jesus por aqueles que não tem voz nem vez

§  Você deseja que Jesus entre na sua casa e faça, anuncie seu Evangelho e lhe indique o caminho para o bem viver?