(Lucas 12,39-48) Não, Pedro, a parábola do servo que espera a volta do seu senhor não se
refere aos irmãos que ainda estão à procura de Deus ou àqueles que têm Deus
longe do próprio horizonte. Não, não é assim! A parábola tem a ver contigo e
comigo, discípulos de longa data, nós que tivemos a alegria extraordinária de
conhecer o verdadeiro rosto de Deus. Somos nós que corremos o risco de tornar a
fé algo pesado, de tirar-lhe o brilho, de habituarmo-nos com a glória do Pai.
Propriamente nós, que o temos seguido de perto, corremos o risco de dar tudo
por descontado: as descobertas, as conquistas, os dons da fé. E de sentarmo-nos
tranquilamente. Não preciso dizer o quanto fiquei perturbado diante das
desconcertantes páginas escritas pelos padres pedófilos. Certo, alguns casos
são claramente patológicos, verdadeiros distúrbios de personalidade. Mas muitos
outros são “padres normais” que se permitiram, que não vigiaram, que começaram
a bater naqueles a quem deveriam servir. E sem ficar nestes casos marcados pelo
excesso, também nós podemos, sem darmo-nos conta, tornarmo-nos pequenos
ditadores nas nossas paróquias, exigentes e presunçosos, demasiadamente seguros
de nós mesmos e das coisas que sabemos. Não, Pedro, Jesus fala a nós dois, a ti
e a mim, e nos convida a não apostar demais na nossa suposta fé. Vigiemos! (Paulo
Curtaz, Parola e Preghiera, outubro de 2013, p. 152)
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