N.S.Aparecida na capela da casa do Capitulo |
Dia de memória, festa
e de decisão
Hoje, 12 de outubro, é festa de Nossa
Senhora Aparecida, Dia da Criança, 521 anos da chegada dos europeus às Américas
(assim batizadas por eles). A propósito desta última ocorrência, Eduardo
Galeano escreve, com sua incomparável capacidade de ler as coisas pelo avesso:
“Em 1492, os nativos descobriram que eram índios, descobriram que viviam na
América, descobriram que estavam nus, descobriram que deviam
obediência a um rei e a uma rainha de um outro mundo e a um deus de outro céu, e que esse deus havia
inventado a culpa e o vestido, e que havia mandado que fosse queimado vivo quem
adorasse o Sol e a Lua e a Terra e a Chuva que molha essa terra.”
Aqui no Instituto Maria Bambina, onde realizamos
nosso Capítulo Geral, começamos o dia com a liturgia animada pela Província
Brasil Oriental, com direito a procissão com a imagem de Nossa Senhora
Aparecida, bandeira do Brasil e muito mais. E terminamos o dia com uma janta
mais solene do que o costume. Mas isso não em razão da festa de Nossa Senhora
Aparecida, mas da eleição do Superior Geral, realizada na tarde de hoje. E o
clima festivo continuou noite adentro, com um fraterno Conveniat.
Uma "Comunidade de Discernimento" |
Na primeira sessão da manhã, a Irmã Vitória,
nossa brava assessora, nos apresentou uma oportuna e exigente reflexão sobre a
responsabilidade embutida no ato de eleger um Superior Geral. Pediu que
pensássemos muito bem antes de tomar uma decisão que pode mudar radicalmente a
vida e os projetos de um coirmão. Depois, fizemos uma sondagem sobre os nomes
preferidos para exercer este ministério. A apuração não foi feita no plenário,
e o resultado foi apresentado da seguinte maneira: uma lista com os nomes,
dispostos em ordem alfabética, que receberam cinco ou mais indicações, mas sem
o número de votos; uma lista dos nomes, em ordem alfabética e sem o número de
indicações, dos coirmãos que receberam menos de cinco indicações. Como
apareceram apenas três nomes com mais de cinco votos, não realizamos uma
segunda sondagem, conforme o previsto.
Outra "Comunidade de Discernimento" |
Em seguida, tivemos um tempo para oração,
reflexão e discernimento pessoal, considerando os nomes mais indicados e o
perfil de governo que necessitamos, conforme indicamos ontem. Iniciamos a tarde
com um momento de oração comunitária na capela, pedindo ao Espírito Santo as
luzes para discernir corretamente o nome do coirmão sobre o qual depositaríamos
a responsabilidade de animar e dirigir a congregação, à luz das Constituições e
das decisões deste capítulo, nos próximos seis anos.
Ato contínuo, voltamos à sala da assembléia para
proceder a votação. Já na primeira
votação o Pe. Edmund Jan Michalski, atual Superior geral, foi reeleito para o
ministério, com vinte e três dos quarenta e quatro votos. Assim, ele
continuará no governo por mais seis anos e terá nas mãos a responsabilidade de
implementar as decisões que ainda estamos tomando neste capítulo. Em seguida
voltamos à capela, agora para uma breve celebração de ação de graças, na qual
louvamos a Deus pela disponibilidade do Pe. Edmund e pela maturidade que os
coirmãos demonstraram no processo de discernimento. Nesta celebração, o
Superior reeleito fez sua profissão de fé, iluminada pelo episódio que João
narra no capítulo 21 do seu evangelho: interrogado por Jesus se o ama, Pedro
responde que sim, e Jesus pede que então ele tome conta do seu rebanho. Assim,
na Igreja, o amor a Jesus Cristo, base de todo ministério, se mostra e se mede
no cuidado pastoral, e tem sua base não no mandato que dá autoridade mas no
chamado a ser eterno aprendiz.
Uma terceira "Comunidade de Discernimento" |
É possível que alguns se perguntem o que significa
essa reeleição do Pe. Edmund. No meu modo de ver, está claro que a maioria da
Congregação, representada pelos quarenta e quatro capitulares, deseja continuar
um estilo de governo focalizado na presença fraterna, na administração e na
resolução de questões jurídicas, sem projeto e sem perspectiva. E digo isso sem
ressentimento nem maldade. Assim tem sido pelo menos nos últimos dezoito anos
de governo. Pergunto-me se mantendo esse ritmo por um quarto de século uma
Congregação não corre o risco de perder irremediavelmente o trem da história.
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário