Estamos realizando nosso XIII Capítulo Geral. Na manhã do fia 7 de outubro, esteve conosco o Pe. Giulio Albanese, missionário e jornalista comboniano. Ele nos ajudou a refletir sobre a necessidade de ler os sinais dos tempos. Segundo este jornalista missionário italiano, é impossível pensar e projetar a missão hoje sem uma atenta e responsável leitura do tempo e do mundo que vivemos. O presente texto é a sexta parte desta reflexão.
Sinais dos Tempos: O ativismo
Sempre no contexto dos sinais dos tempos que estamos tentando
prescrutar, encontramos um outro fenômeno muito difuso: o ativismo. Hoje tudo
parece ritmado pelo movimento físico, ativo, humano. Basta pensar nas viagens
frequentes, por prazer ou por dever, ou nos mil e um compromissos da nossa
agenda cotidiana de dirigentes, empregados, religiosos, estudantes, voluntários
ou até donas de casa. Isso talvez seja o sintoma mais evidente de um frenesi
planetário que não conseguimos conter, ou que sofremos, inclusive adoecendo por
pressão desse grande stress.
O ativismo se tornou uma obsessão: pouco importa que tenha como
objetivo ganhar dinheiro, mudar o mundo, fazer aquilo que os outros fazem,
mudar o curso do tempo, mesmo com o custo de abandonar o próprio ser. Todos se sentem investidos do direito/dever
de correr. A sociedade é tal que os assalariados devem necessariamente
fazer horas-extras, possivelmente mais que no passado, dizem alguns com
insistência, como o administrador delegado da Fiat, Sergio Marchionne. A coisa
engraçada é que até aqueles que poderiam economizar energias, como os
aposentados, se lamentam do excesso de compromissos... Devemos admitir que nos faz bem pensar que estamos ocupados! E não
poderia ser diferente, pois parar seria o mesmo que morrer. Na nossa cabeça há
coincidência entre o ser e o fazer.
É indiscutível que o ativismo se
constitua na palavra de ordem da civilização contemporânea. A exaltação e a prática da ação,
portanto, de tudo o que representa esforço, impulso, luta, devir,
transformação, busca perene, movimento permanente, emerge um pouco por todo
lado. Mas não é apenas isso. Desenvolvemos também uma filosofia de vida escrava
deste princípio, que, com uma crítica sistemática e um forte aparato especulativo,
cria álibis de todo tipo e despreza abertamente modos diversos de ser e,
consequentemente, o próprio ser.
Na verdade, é possível fazer uma crítica e esboçar uma reação contra
essa orientação do mundo pós-moderno, não em nome da passividade, do não fazer
nada ou da abstração intelectualista, mas em nome da própria ação: mostrando
que a sociedade da qual somos parte integrante, no fundo, não sabe quase nada
do que significa verdadeiramente a ação. O
cristinanismo, e particularmente a missão, exigem da parte do crente um
discernimento. Existe um agir sadio e
um ativismo que não passa de febre, exaltação, vertigem sem um centro,
tanto que, longe de demonstrar uma força, como normalmente se acredita, indica
somente impotência e incapacidade de gerir a vida. O empenho na nova evangelização não pode prescindir do silêncio e da
contemplação, necessários para poder acolher os outros de modo equilibrado.
Albert Nolan diz que o ativismo
desregrado é como o sonambulismo. Mesmo que tenhamos a melhor das intenções
e agimos diligentemente pelo bem comum, acabamos nos parecendo a Dom Quixote:
combatemos contra moinhos de vento, pois faltam objetivos claros e válidos. A
boa vontade não é suficiente! Se, na febre de correr, de ir sempre mais
adiante, perdemos as verdadeiras motivações, o risco é grande. Hoje, mais que
nunca, devemos encontrar espaços para relaxar, para distinguir as simples
atividades das legítimas aspirações da alma. Ademais, hoje se sabe que quem
consegue encontrar momentos e espaços de recolhimento acaba liberando uma
incrível criatividade.
Para refletir sobre a experiência e buscar intimidade com Deus temos
necessidade de fazer a experiência do
deserto. Segundo os evangelhos, Jesus, em várias circunstâncias, se
retirava em silêncio para rezar diante do Pai, e convidava os apóstolos a fazer
o mesmo. Em qual das nossas comunidades paroquiais, com exceção dos espaços de
catequese, encontramos tempo e oferecemos percursos para ajudar o povo a rezar?
Os adultos lembram as orações tradicionais mais ou menos de memória, mas os
jovens frequentemente não conhecem nem mesmo o Pai Nosso... Lamentamos se eles
tomam a decisão de buscar outras formas de espiritualidade... Mas o que fizemos
de fato para que eles pudessem aprender a rezar? Segundo a minha experiência,
posso dizer que realmente existe muita gente sedenta e faminta de Deus.
Para interrogar adequadamente sobre o desejo do Transcendente seria
necessário um livro inteiro, talvez uma enciclopédia. Alguns sentem necessidade
de cura interior; outros exprimem o desejo de enfrentar a vida de cabeça
erquida; outros ainda, sentem a urgência de superar um sentimento de medo,
inadequação e desconforto frente às adversidades da existência. Nas últimas décadas,
nas chamadas Igrejas de antigo cristianismo, muita gente abandonou sua própria
comunidade e voltou-se às religiões orientais. Sem desprezar nenhuma
espiritualidade típica deste ou daquele credo, pergunto-me: por que não fomos
capazes de partilhar com essa gente a riqueza dos nossos grandes mestres do
Espírito, como Santa Catarina de Sena, Santa Teresa D’Ávila, São João da Cruz,
Santo Inácio de Loyola?
Seguramente temos ainda muita estrada a percorrer. O que importa é
crescer na consciência da presença e proximidade de Deus. Não por acaso, nas
suas Confissões, Santo Agostinho,
Bispo de Hipona, nos descreveu em linguagem poética sua experiência espiritual,
com a inocência de quem encontrou sua “pérola preciosa”: “Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Estavas
dentro de mim e eu estava fora, e aí te procurava... Atrapalhado, me lançava
sobre a beleza das tuas criaturas. Elas, que não existiriam sem ti, me
mantinham longe de ti. Estavas comigo e eu não estava contigo... Mas Tu me chamaste,
clamaste e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e curaste a minha
cegueira. Espalhaste teu perfume, e eu anelei
por ti. Te experimentei, e tenho fome e sede de ti. Me tocaste, e queimo de
desejo pela tua paz.”
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