Uma vida que continua
falando.
Lá se vão
três meses desde a partida do Pe. Ceolin. Partida num sentido muito específico,
pois ele continua presente, de muitos modos e permanentemente. Se é verdade que,
como diz um poeta, as pessoas morrem duas vezes – uma quando o coração deixa de
bater e, definitivamente, quando o nome delas deixa de ser pronunciado ou
lembrado – este cidadão jaguariense e membro insigne da Congregaçãpo está mais
que vivo no nosso meio.
Pessoalmente,
o vulto dele me vem diante dos olhos quase que diariamente. E o lembro como uma
pessoa diante da qual a gente se sentia bem. Nos encontros entre pessoas amigas, importa memos o
que se diz e o que se faz. Também não contam os silêncios preocupantes ou as
palavras eventualmente duras. O que conta e faz bem é estar juntos, próximos. O
que é verdadeiramente transcendente é saber-se acolhido e amado, para além das
palavras e gestos. Amamos as pessoas em cujo olhar nos sentimos
incondicionalmente bons e bonitos.
Neste
tempo que me coube viver em Roma, sempre que eu planejava uma viagem ao Brasil,
logo imaginava um modo e um momento para, ao menos, ver e saudar este velho
mestre e bom amigo. Só de imaginar o encontro, a viagem adquiria um sentido
especial. E, como todos sabem, nem sempre a conversa transcorria sobre coisas
importantes, às vezes a gente não o encontrava bem-humorado, e muitas vezes os
encontros eram rápidos e as palavras eram poucas. Mas isso era de menos...
Mas isso
terminou. Agora ele passou para “o outro lado”. Verdade? Ou ele continua no
meio de nós, acompanhando-nos e ensinando-nos a fazer a única travessia
verdadeiramente importante, aquela que nos leva de seres infra-humanos ou
humanamente subdesenvolvidos à verdadeira estatura humana; de uma vida cristã e
religiosa feita de prescrições e observâncias a uma vida evangelicamente
orientada e permanentemente refundada?
Entre as
muitas setas que ele nos deixou numa existência percorrida com paixão, colho
cinco que me interpelam mais profundamente: “Seja você mesmo, apenas mas
sempre. Doe-se por inteiro àqueles que você ama e àquilo que você faz. Entregue-se
ao despojamento do amor e evite a inflação do saber. Ame em ações e verdade, e
não meramente em palavras. Seja o próximo dos últimos e sonhe o futuro sem
medo.” São palavras e lições que ele continua pronunciando com sua vida. Por
isso, continuo pronunciando o nome dele, e ele vive.
Itacir Brassiani msf
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