Aos pés do Papa, ou nos passos de Francisco?
No calendário litúrgico, hoje é festa de São
Francisco, o Irmão universal, o pobrezinho de Assis. A liturgia da Palavra nos
convida a escutar Paulo, que nos remete a Francisco e seus estigmas:
“Doravante, que ninguém me moleste, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus”
(Gal 6,17). E, no evangelho de Mateus, somos envolvidos pelo louvor agradecido
de Jesus, e não temos como não lembrar de Francisco: “Eu te louvo, Pai, Senhor
do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes
aos pequeninos” (Mt 11,25).
Como vem sendo amplamente noticiado, nestes dias está
reunido em Roma o “G8 do Papa Francisco”, o grupo de cardeais nomeados por ele
para ajudá-lo num amplo e profundo programa de reforma da Igreja. Esta
comissão, que aponta para a desitalianização da Sede Apostólica, representa os
diversos continentes e tem a difícil missão de diagnosticar os principais
problemas da sede da Igreja nesse momento e propor o tratamento que
corresponde. Mas o que me parece sumamente interessante é que Francisco, o
Bispo de Roma, levou hoje seu “G8” a Assis, como que dizendo que a reforma da
Igreja começa por lá, pela pobreza que gera fraternidade e alegria. As reformas
não se fazem com projetos teóricos, mas baseados numa experiência espiritual e
prática com o mundo dos pobres. Por isso, Francisco e os cardeais foram
partilhar o almoço numa comunidade de pobres.
E eu não consigo evitar comparações e questionamentos.
Ficamos felizes por termos conseguido realizar nosso Capítulo Geral a dez
passos da Praça São Pedro, “aos pés do Papa”, no coração da cristandade. Mas
será que estaria aqui o dinamismo da renovação à qual o Espírito nos chama
hoje? Ainda cremos que a mudança possa vir do centro ou de cima? Nós viemos
“aos pés do Papa”, e Francisco, o Bispo de Roma, querendo reformar a Igreja,
leva seus colaboradores a Assis para aprender do Irmão menor, e com eles vai à
mesa dos últimos. Nós decidimos ir ao centro, e Francisco diz que devemos ir às
periferias... Isso faz pensar.
Como adiantei ontem, dedicamos a manhã de hoje à
“escuta” da vida que corre e pulsa nas nossas Províncias. Hoje foi a vez das
Províncias de Kalimantan, Madagascar, Holanda e Polônia. A parte da tarde foi
dedicada à apresentação do Relatório do
Governo Geral, o qual, mais que um relatório de atividades, é uma tentativa
de oferecer uma leitura crítica do momento atual da Congregação, nos aspectos
da identidade e missão, da fraternidade em comunidade, da formação inicial e
permanente, das estruturas de animação e de governo e da administração
econômica. Resta, para a manhã de sábado, o relatório econômico. Com isso,
concluiremos a “escuta” da realidade da nossa Congregação.
Não tenho condições de oferecer, ao menos por
enquanto, um balanço ou uma síntese dos principais apelos que a situação da
Congregação dirige aos capitulares. O que posso dizer é que os coirmãos que
estão aqui reunidos fizeram um esforço enorme e se mostraram incansáveis na
escuta e acolhida da palavra dos coirmãos. Agora, o desafio é recolher nas mãos
e no coração, como pobres e menores, estes apelos, e levá-los como preciosa
matéria para o processo de discernimento da próxima semana. Mas o caminho não o
aprendemos no trono do Papa mas nos passos de Francisco, o pobre de Assis,
aquele que testemunhou as marcas de Cristo no corpo e na alma.
Itacir Brassiani msf
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