Ainda fazendo memória da vida do Pe. Ceolin,
partilho hoje um depoimento da Ir. Milagros, jovem carmelita argentina do
Carmelo Sagrado Coração de Jesus de Santo Angelo. Por vários anos, a Ir.
Milagros teve o Pe. Ceolin como orientador espiritual, até ida dele a Passo
Fundo para tratamento de saúde. Ir. Milagros escreveu estas linhas no dia 14 de
julho de 2013, dez dias depois da despedida definitiva do Pe. Ceolin.
Só perdemos uma pessoa quando deixamos de amá-la.
Missa de despedida do Pe. Ceolin (04.07.2013) |
É um paradoxo... Às vezes acho graça
quando penso que agora chegou a minha vez. atendendo a portaria, falo com
muitas pessoas que vêm pedir alguma palavra de conforto pelo que elas chamam de
"perda" de alguma pessoa querida. Eu sempre digo: "Nunca
perdemos ninguém, a não ser quando deixamos de amar; a presença física é
muito pobre; a presença amorosa, essa sim não desaparece do olhar do
coração". Agora sou eu quem tem que
repetir essas palavras para mim mesma. Ainda dói o coração, e é uma dor
bastante egoísta, pois penso que meu ‘padrezinho’ ainda me faz falta. Mas Deus
sabe o que faz.
Nas horas em que mais precisei, o Pe.
Ceolin sempre esteve a meu lado. Ainda lembro bem daquela menina tagarela, de dezenove
anos, que uma semana depois de chegar ao Carmelo viu aquele padre, ouviu
ele falar na homilia e pensou: “Esse é o padre que eu quero para me ajudar
nesta ‘subida’... Ele não manda recados, dá para ver que leva a sério a vida
espiritual...” E assim, brincando com as irmãs disse: "Foi amor à primeira
vista". Essa menina era eu... Oito anos se passaram, e os três últimos
foram os mais intensos. O Pe. Ceolin foi meu ‘Cirineu’ no doloroso ano de 2011,
quando em meio a tremendas lutas espirituais que fizeram definhar meu corpo,
tinha que dizer meu sim perpétuo a Deus.
Quando meu mundo começou a desabar,
exatamente no mesmo dia em que meus olhos começavam a se abrir para enxergar um
pouquinho melhor, quando eu precisava muito das palavras dele, ele chegou sem
ser chamado por mim (a não ser com o grito do coração)... Apenas terminada a missa
celebrada por outro sacerdote, quando ainda estávamos fazendo nossa ação de
graças, o Pe. Ceolin apareceu para buscar Jesus Sacramentado para levá-lo a um
doente... Naquele momento pude falar com ele, chorar na presença dele, sentindo
meu coração apertado. E ouvi suas palavras de conforto, vi seus gestos, senti
sua presença me dizendo que nada estava perdido. Essas lutas duraram mais de
meio ano, e ele sempre ali... Até uma vez me disse brincando: "Tu sabes
que mesmo ‘afundando’, não estarás sozinha, porque Jesus vai contigo. Ele
esteve lá primeiro..." E esboçou aquele seu costumeiro sorriso sapeca...
Lembro a última vez que ouvi a voz dele no
telefone. Eu tinha enviado a ele uma carta, e ele ligou para agradecer.
Primeiro falou com Ir. Paula. Depois ela passou para mim, mas não disse quem
era. Eu ouvi aquela voz perguntando: "É a minha menininha?" E
respondi: "Então é meu padrezinho?...” E ele: “Padrezinho!?... Hum! Padrezão!"
Ele sempre me dizia isso. E, naquele dia, continuou: "Menina, você me fez
chorar... Eu não mereço tanto... Você exagerou...”
Para ser sincera, eu ainda acreditava que
o teria volta, que ele ‘sairia dessa’ como antes. Mas o trigo já estava maduro
para ser colhido, e como Madalena em relação a Jesus, eu não poderia retê-lo.
Deus queria ter ele ao seu lado. Não teria mais sentido ele ficar aqui, santo
que era. Os santos sofrem mais, pois enxergam melhor, mas nem todos são
ouvidos... Eles preferem bater a cabeça na parede, e isso eu percebia em nosso
querido Pe. Ceolin. Ele sofria muito por enxergar melhor. Uma vez falou-me
brincando: “Às vezes tenho vontade de sair por aí botando fogo em tudo..."
Eu ri muito, e ele também. Ele se referia ao fogo do Espírito que precisa incendiar
muitas situações e realidades para transformá-las.
Pois é... Agora teremos de continuar
sozinhos nossa travessia. Ou melhor: com a presença dele, mas de um jeito
diferente, e com a nossa saudade e vontade de rever aqueles olhinhos, escutar a
voz do ‘pai’ querido. Rezemos por todos aqueles/as que também estão sentindo a
dor da orfandade. Aqui, a Ir. Paula e eu o lembramos sempre com muito carinho.
Ela o ama muito. Quando cheguei, tanto ela como Ir. Maria Teresinha eram
acompanhadas por ele. Irmanados nessa dor, continuemos pondo em prática seus
ensinamentos, pois eram a voz de Deus.
Tenho de repetir muitas vezes aquela
oração que ele me ensinou e que, com certeza, ensinou a você também, e que, com
maior certeza ainda, ele terá repetido inúmeras vezes. Quando eu dizia estar
com o coração doendo por ter enxergado alguma coisa que a meu ver não
estava certa, dizia-me: "Fala baixinho o nome dessa pessoa, e reza:
fulana, eu te perdoo e te abençoo em nome de Jesus."
Ir. Milagros OCD
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