No dia em que lembramos três meses de falecimento do Pe. Rodolpho Ceolin, acolhemos e refletimos sobre o belo, agradecido e emocionado testemunho escrito pelo coirmão Vergílio, por ocasião do trigésimo dia da páscoa definitiva do nosso saudoso coirmão.
O mistério da
vida e da morte.
A vida e a morte são mistérios porque não se deixam prender à qualquer definição. Ambas estão sempre em
aberto para dizer e dizer-se mais. A vida e a morte do Rodolpho Ceolin não
fogem a este padrão. Na vida ou na morte, trata-se de um mesmo indivíduo. Embora
distintos, vida e morte, não são separáveis. Não há um sem o outro.
Falar do Pe. Ceolin aos que o conhecem e o amam é um papo; falar dele a
quem não o conhece é bem outra coisa. E mais: prestar homenagem póstuma é algo
um tanto estranho, para não dizer falta de respeito. Não tivemos a coragem de
falar frente-a-frente? Ou estamos com complexo de culpa pelos julgamentos que
lhe fizemos?
Conheci Pe. Rodolpho desde a década de 1960. Homem simpático, acolhedor,
boa gente, tratável. Homem de respeito. Gente firme no tom de voz e nas
decisões imediatas. Homem de bom relacionamento
com os mais velhos e com os meninos. Homem que se achegava com carinho às
pessoas e deixava os outros se aproximar dele sem medo.
Homem bom e temido no termo mais direto. Homem de olhar sereno, sério e
severo. Homem do olhar direto, certo e certeiro. Homem de gestos curtos e
compreensíveis. Homem que tratava com homens e não com robôs. Homem do sorriso
fácil e do timbre de voz ameno. Homem que sabia levantar a voz para os surdos e
falava mansinho para os humildes. Homem que mais escutava do que falava. Homem
do diálogo. Homem que não mandava recados.
Homem que nunca negou sua fragilidade, nunca negou suas carências, nunca
negou suas limitações. Homem que sempre acreditou em sua capacidade de
superação. Homem que sempre teve a humildade de buscar auxílio em suas necessidades, em seus
tropeços. Homem que vivia em constante discernimento.
Tal o homem Ceolin, tal o cristão de profunda fé, tal o religioso de
fibra. Não se dobrava diante de qualquer santo ou de qualquer tentador. Caía e
levantava. Gritava e chorava. Lastimava-se e se arrependia. Pedia e agradecia.
Mostrava abertura ao outro e fechava-se sobre si mesmo. Solitário, buscava a
família, a comunidade.
Crítico impertinente frente às autoridades, exercia a autoridade,
servindo aos mais pequenos. Rezava em pé e de joelhos. Ouvia a palavra e
proclamava o Reino da justiça. Tinha vícios e reconhecia-os. Gritava contra
eles. Não os imputava a outros.
Gaúcho fronteiriço e missioneiro de têmpera, não andava à cavalo, não
usava bota e bombacha nem a grande cruz no peito. Respeitoso das culturas,
aclamava Sepé Tiaraju. Defendia os índios e os peões, vagando pelas coxilhas. Diante
das ameaças e emboscadas, benzia-se e rezava à virgem prenda Maria. Em Caaró
dos Mártires Riograndenses descansava, bebia das águas refrescantes e retornava
à jornada, até chegar à estância do Seminário da Sagrada Família, onde gostou
de morar e ainda descansa em paz.
Pe. Vergílio João Moro msf
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