Estamos realizando nosso XIII Capítulo Geral. Na manhã do fia 7 de outubro, esteve conosco o Pe. Giulio Albanese, missionário e jornalista comboniano. Ele nos ajudou a refletir sobre a necessidade de ler os sinais dos tempos. Segundo este jornalista missionário italiano, é impossível pensar e projetar a missão hoje sem uma atenta e responsável leitura do tempo e do mundo que vivemos. O presente texto é a quinta parte desta reflexão.
A emergência de um pensar e um sentir laicizados.
A emergência de um pensar e um sentir laicizados.
Minha experiência com os jovens universitários europeus, que encontro há
quase trinta anos no meu apostolado, é muito clara: a grande maioria deles, com exceção de um punhado de conservadores, não
suporta uma visão dogmática, intransigente, que pretenda sempre encontrar
explicações sobre tudos os assuntos.
Recentemente um deles, estudante de astrofísica, desabafou dizemdo-me
que o número de galáxias no universo observável é de entre trezentos e quinhentos
bilhões! “Se consideramos que uma galáxia média possui cerca de cem bilhões de
estrelas, disse-me ele, deixo ao senhor, caro padre, o cálculo do número de
estrelas que existe no universo observável, para não falar dos planetas e dos
satélites... Diante deste mare magnum
de corpos celestes, o que somos nós sobre a terra? É possível que vós, os
padres, pretendam saber tudo sobre os mistérios da vida, enquanto que nós, que
olhamos no espaço além, estamos cada vez mais sem palavras?”
Anotei fielmente esta conversa no meu caderno, definindo-a uma lição de
humildade. Que fique claro: escutando-o não me senti ameaçado na minha fé em
Jesus Cristo ou na Igreja, mas pude tocar com a mão uma realidade bem descrita
por David Tacey, referindo-se à espiritualidade dos jovens australianos. As novas gerações estão superando uma visão
rígida do mundo, estritamente científica e mecanicista, e estão se dando conta
de que o universo é um grande mistério que afirma a finitude do ser humano.
Para os jovens, aquilo que conta é a pesquisa do grande mistério que sustenta o universo. É por isso que se mostram
refratários e intolerantes com quem pretende dar lições com presunção, como se
tivesse a verdade no bolso. Qualquer que
seja o juízo ao qual chegamos nisso, não há dúvida de que também o difuso sentimento
laicizado dos jovens é um sinal dos tempos.
Talvez a primeira verdadeira resposta que é dada aos fundamentalistas
seja aquela que encontramos no evangelho apócrifo de Tomé, no qual Jesu diz:
“Aqueles que sabem tudo, mas são vazios por dentro, não sabem nada”. Sem se dar
conta, os fundamentalistas são ridículos,
pois não têm a mínima consciência dos próprios limites e impõem aos outros
convicções e dúvidas como um britador. “Por que vês o cisco que está no
olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu?”, diz Jesus no Evangelho
de Lucas.
A segunda consideração está relacionada à visão de história. Estas
pessoas se preocupam com a fidelidade ao passado mas não têm coragem de
repensar suas doutrinas, e acabam impondo, como lemos no Evangelho de Mateus,
“pesados fardos subre os ombros do povo”, mas “sem mover nem mesmo um dedo”. Fechando as janelas da mente ao devir da
história, os fundamentalistas não se questionam, e ameaçam com anátemas a quem
se lhes opõem.
Na vida espiritual autêntica, ao contrário, só podemos crescer se nos colocamos questões
existenciais sobre o próprio ser e sobre o sentido da vida. Não por acaso a
grande Teresa d’Ávila escrevia, no Castelo
Interior: “Não sei se me fiz entender: este conhecimento de nós mesmos, de
fato, é tão importante que não gostaria de relaxar nesse aspecto, mesmo se já
estivesse elevada ao céu, porque enquanto estivermos nesta terra não existe
coisa mais importante que a humildade”.
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