Estamos realizando nosso XIII Capítulo Geral. Na manhã do fia 7 de outubro, esteve conosco o Pe. Giulio Albanese, missionário e jornalista comboniano. Ele nos ajudou a refletir sobre a necessidade de ler os sinais dos tempos. Segundo este jornalista missionário italiano, é impossível pensar e projetar a missão hoje sem uma atenta e responsável leitura do tempo e do mundo que vivemos. O presente texto é a segunda parte da parte desta reflexão.
A globalização: as redes de comunicação
A globalização: as redes de comunicação
O primeiro sinal do nosso
tempo é a globalização. Trata-se de um fenômeno em escala planetária
cujos efeitos são evidentes no nível sócio-econõmico, cultural e religioso. De
alguns anos para cá ferquentemente se fala da globalização como um fenômeno associado conceitualmente à
devastante crise dos mercados financeiros e em particular do trabalho. De
fato, sobre a globalização se pode dizer tudo e o contrário de tudo, pois
trata-se de algo que tem a ver com o progressivo
alargamento da esfera das relações sociais a ponto de de, ao menos
potencialmente, concidir com o planeta inteiro. Inter-relação global significa também interdependência global, uma
vez que as mudanças substanciais que ocorrem em uma parte do planeta têm, em
virtude desta inderdependência, repercussões, no bem e no mal, no outro lado do
planeta, e num lapso de tempo relativamente breve.
Uma das manifestações
tecnológicas mais notáveis é ampliação a nível planetário da Rede
Internet, expressão de um progresso comunicativo que deflagrou uma
verdadeira revolução cultural, que não pode ser reduzida a um simples indicador
do desenvolvimento humano. De fato, a Internet se configura prevalentemente
como projeção, na Rede, da condição humana que consente de explorar os
infinitos espaços de socialização como são os social network, os mailing
list, os news group, os forum, os chat line, os e-mail,
para não falar da oferta de inéditos serviços em todos os âmbitos, do comercial
ao político, religioso, militar, científico e lúdico.
Portanto,é um fenômeno
claramente revolucionário que, no seu conjunto, determinou a criação de novas vias de acesso ao conhecimento como a
informação, a pesquisa, a documentação e a atualização, ampliando sem
medida o leque das oportunidades humanas. A palavra “Internet” deriva de “Interconnected Networks”, ou seja, “redes interconexas”. A
idéia fundamental é muito simples e consiste em coligar as redes de
computadores entre si, criando “a Rede de todas as Redes”, da qual deriva a
metáfora “auto-estrada” internetiana, tão cara a Bill Gates, fundador da
Microsoft.
Na sociedade real, também esta globalizada, as auto-estradas nacionais
são artérias de comunicação veloz, para cada tipo de meio, privado ou
comercial, que coligam as redes viárias locais para facilitar a transferência e
a troca rápida de mercadorias. O mesmo vale para as redes ferroviárias,
marítimas e aéreas. Cada uma destas redes tem uma origem, uma história, uma
evolução, uma especialização, e modificam suas características com o tempo, a
tal ponto que, por exemplo, as redes ferroviárias competem com as aéreas no
transporte de passageiros, e estas estão em concorrência com as auto-estradas. Estes
sistemas de transporte, associados a um standard
para visualizar as informações e interagir, levam os sujeitos que os utilizam a
novos espaços de encontro e de interação: por analogia, podemos imaginar uma
estação ferroviária ou rodoviária, um aeroporto.
Tentemos agora conhecer melhor e aprofundar o conceito de “lugar” na
“Rede das Redes” lançando mão da metáfora “não-lugar”. Quem fala disso é o
antropólogo francês Marc Augé, para o qual os não-lugares são, em contraposição aos lugares antropológicos, todos aqueles espaços que têm a prerrogativa
de não serem identitários, relacionais e históricos. Fazem parte dos não-lugares tanto as estruturas
necessárias para a circulação acelerada de pessoas e bens (auto-estradas,
aeroportos) como os meios de transporte, os grandes centros comerciais, os
campos de refugiados, etc. São espaços
nos quais milhões de indivíduos se cruzam sem estabelecer relações,
pressionados pelo desejo frenético de consumir ou de acelerar as operações
cotidians ou tentando acessar uma mudança (real ou simbólica).
Os não-lugares são prudutos da
sociedade da hipermodernidade,
incapaz de integrar em si mesma os lugares históricos delimitados, que acabam
banalizados em posições limitadas e circunscritas, como “curiosidades” ou como
“objetos interessantes”, semelhantes mas diversos: as diferenças culturais
massificadas. Em todos os centros comerciais podemos encontrar comida chinesa,
italiana, mexicana e árabe, e cada uma com seu próprio estilo, características
próprias e espaço definido.
No não-lugar, o indivíduo perde todas as suas
características próprias para continuar existindo exclusivamente como cliente e
consumidor. O seu único papel é o de usuário, definido por um contrato mais
ou menos tácito que assina com a entrada no não-lugar.
A Internet nasce assim, como um não-lugar,
uma rede de passagem entre lugares, uma rede de transporte vista como um
instrumento onde as grandes e pequenas empresas podem publicar as próprias
brochuras. A chamada “desintermediação” da informação vem em seguida: por que
recorrer a uma rede de TV ou a uma revista especializada para divulgar o meu
produto? Sucessivamente, chegou a Internet das interações sociais, as chamadas
“redes sociais”.
Seriam as redes sociais um lugar de
missão? Elas são um
dos tantos contextos onde podemos encontrar em contato com o povo. Estamos
falando de uma realidade que, de qualquer modo, para além dos serviços que
possa oferecer, é “terra de missão”. Deste ponto de vista, é necessário
exercitar uma ação educativa sobre os usuários, promovendo responsabilidade e
confiança. Efetivamente, um dos erros cometidos frequentemente por aqueles que
se aproximam da Rede com um background
cultural “predigital” é aquele de considerá-la como um momento estanque da
existência humana. Quase como se existisse, de um lado, a “vida real” e, de
outro, a “vida virtual”, claramente distintas uma da outra. Por favor, é claro
que se pode viver sem celular, mas os modelos e paradigmas modernos são uma
coisa envolvente, são formas expressivas e linguagens que fazem parte do “modus
vivendi” das novas gerações, mas também das mais idosas. Para os jovens, como
também para seus pais, só existe uma
“Vida”, e esta é “hiperconexa”, com o telefone e os SMS, com o correio
eletrônico e a Web. O que importa é fazer deles um uso inteligente.
Por conseguinte, segundo a estratégia de Bill Gates, as chamadas “information highways”, as auto-estradas
da informática e das informações, não são apenas o sistema nervoso digital
desta ou daquela empresa, mas também o sistema nervoso do “sem finalidade
lucrativa” (“no-profit”), nas características de economicidade e ubiquidade da network. A mesma coisa vale para o mundo
missionário, que começou a utilizar a Internet antes de muitas outras
categorias sociais, na primeira metade dos anos noventa, como meio para
testemunhar o Evangelho. O importante é
compreender que atrás de cada computador há sempre uma pessoa à qual devemos
oferecer confiança e apoio, anunciando-lhe a Boa Notícia. E então, “cliquem
e lhes será aberto!”
Brincadeiras à parte, se fala frequentemente de “missão digital”, mas em qual modo é deveras possível evangelizar
a Internet? Muito dependerá do
engajamento das nossas comunidades para serem alfabetizadas o suficiente para
compreender a filosfia digital. Se é verdade que em relção aos anos noventa
temos feito progressos significativos, a estrada que temos pela frente é ainda
muito longa e exigente. A muitos religiosos ainda hoje é difícil entender que a
Internet não uma agência de notícias nem um enorme mural planetário, e também
não uma simples biblioteca informática. Pretender
reduzir a rede a estas esquematizações não é apenas redutivo, mas pode marcar
pelo preconceito um grande espaço de livre expressão, útil para abater o muro
de ingnorância e indiferença em relação aos valores do Reino, que é, antes
de tudo, fraternidade universal.
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