quinta-feira, 20 de agosto de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | VIGÉSIMO-PRIMEIRO DOMINGO | 23.08.2020


A fé em Jesus Cristo é o alicerce que sustenta a Igreja.
Jesus deixa a região marginal da Galileia, onde revelou sua compaixão pela multidão faminta e tomou a iniciativa de alimentá-la, e chega à região de Cesaréia de Filipe. No passado, esta região fora famosa pelo santuário dedicado a Pã, divindade protetora dos rebanhos e pastores. Mais tarde, o rei Filipe rebatizara a cidade com o nome de Cesaréia, em homenagem a César Augusto. Este nome e esta homenagem de um rei capacho dos dominadores mexiam com a questão da soberania e da submissão política de um povo.
A primeira pergunta que Jesus dirige aos discípulos, justamente neste lugar carregado de significado político, soa como uma espécie de enquete: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?” Lembremos que a expressão ‘Filho do homem’, com a qual Jesus se refere a si mesmo, destaca os vínculos de Jesus com humanidade, e é o título que ele prefere e usa com mais frequência. Conhecedor da ambiguidade dos conceitos e expectativas que escondem, Jesus evita referir-se a si mesmo como Filho de Deus ou Messias...
Podemos imaginar que a resposta não tenha saído assim muito rapidamente. Entre os discípulos fez-se silêncio, e eles se esforçaram para recordar aquilo que o povo dizia depois de ter escutado e conhecido Jesus. As respostas que eles resumem vinculam Jesus claramente ao movimento profético. O povo identifica a ação e a pregação de Jesus com a missão dos grandes profetas da sua tradição, aqueles homens e mulheres que falavam e agiam em nome de Deus e defendiam os direitos dos sem-direitos.
Mas parece que o interesse de Jesus não é apenas fazer uma espécie de pesquisa de opinião. Ele escuta atentamente a resposta dos discípulos, mas não comenta a síntese que eles apresentam. Faz-se novamente silêncio. Então Jesus, olhando os discípulos nos olhos, pergunta-lhes enfaticamente: “E vocês, quem dizem que eu sou?” O que interessa a Jesus são as ideias, fantasias e expectativas que povoam a mente e o coração dos homens e mulheres que seguem seus passos e escutam suas palavras.
A pergunta é séria, e as respostas não estão escritas em nenhuma cartilha. A tradição na qual os discípulos haviam sido formados oferecia possibilidades diversas e contrastantes de resposta. O chão que eles pisam lembra deuses pastores e impérios dominadores. A pergunta toca direto nas expectativas que eles alimentam sobre Jesus, e coloca em questão a relação que tem com ele. No fundo, Jesus pergunta “que lugar eu ocupo na vida, no projeto e nas opções de vocês?”
Tanto para aqueles discípulos com para nós, as respostas que ouvimos dos nossos pais, catequistas, padres e professores podem ajudar, mas são radicalmente insuficientes. A resposta à pergunta de Jesus deve vir da vida pessoal e eclesial; está inscrita nas nossas práticas, relacionamentos, opções e utopias; está oculta no tipo de relação que cultivamos com Jesus de Nazaré, no lugar que ele ocupa na nossa existência. Portanto, não pode ser uma resposta à flor da pele, na ponta da língua, aprendida e decorada, irrefletida.
Pedro rompe o silêncio. Com voz insegura, mas sereno e até ousado, fala, como sempre, em nome de todos: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo.” É uma afirmação de fé, que reconhece que aquele ser humano concreto que se compadece da multidão faminta e elogia a fé de uma mulher pagã, é o Ungido pelo Espírito Santo, o enviado de Deus para realizar seu projeto. E Jesus chama Pedro de rocha, pois é sobre essa adesão de fé que ele confia a continuidade da sua missão. Esta adesão se torna chave que abre e fecha portas.
A resposta de Pedro não nasce dos medos ou desejos infantis de onipotência, nem é ensinada pelos doutores de plantão. O reconhecimento e a fé num Deus presente na carne humana é dom de Deus aos pequenos. Não precisamos da graça para aderir a um deus que se identifica com os poderosos e as grandes obras, mas ela é indispensável para reconhecer Deus na história. É nisso que se manifesta a profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus, como diz o apóstolo Paulo. 
Deus pai e mãe! Teus caminhos são impenetráveis, tu andas pela contramão da história dos grandes e potentes. Oxalá nossa pregação não se apoie no poder do dinheiro, na força das armas, na persuasão da oratória ou na violência de quem não se conforma com as mudanças. E que tua Igreja, inspirada na prática de Jesus de Nazaré, o missionário querido que enviaste ao mundo, valorize e promova a vocação dos leigos e leigas, tanto na sociedade como na Igreja, reconhecendo-os como perfume de Cristo, fermento do Reino e glória do Evangelho, como ensinam os Bispos do Brasil. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Isaías 22,19-23 | Salmo 137 (138)
Carta de Paulo aos Romanos 11,36-38 | Evangelho de São Mateus 16,13-20

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