quinta-feira, 27 de agosto de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 30.08.2020


ARRISCAR TUDO POR JESUS

Não é fácil olhar para o mundo interior de Jesus, mas no Seu coração podemos intuir uma dupla experiência: Sua identificação com os últimos da sociedade e Sua total confiança no Pai. Por um lado, Jesus sofre com a injustiça, com as desgraças e as doenças que fazem sofrer a tantos; por outro, confia totalmente no Pai, que nada mais quer do que arrancar da vida o que é mau e faz Seus filhos sofrerem.
Jesus estava disposto a tudo para tornar realidade o desejo de Deus, Seu Pai: um mundo mais justo, digno e feliz para todos. E, como é natural, queria encontrar nos Seus seguidores a mesma atitude. Se seguiam os Seus passos, deviam partilhar a Sua paixão por Deus e a Sua total disponibilidade ao serviço de Seu reino. Queria acender neles o fogo que levava dentro.
Há frases que dizem tudo. As fontes cristãs conservaram, com poucas diferenças, um ditado dirigido por Jesus aos Seus discípulos: «Se alguém quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem a perde por mim, a encontrará». Com essas palavras paradoxais, Jesus convida-os a viver como Ele: agarrar-se cegamente à vida pode levar a perde-la; arriscá-la de forma generosa e valente leva a salvá-la.
O pensamento de Jesus é claro. Quem caminha atrás Dele, mas continua apegado às seguranças, metas e expectativas que lhe oferece a sua vida, pode acabar por perder o maior bem de todos: a vida vivida segundo o projeto salvador de Deus. Pelo contrário, quem arrisca tudo para O seguir encontrará vida, entrando com Ele no reino do Pai.
Quem segue Jesus têm com frequência a sensação de estar «perdendo a vida» por uma utopia inatingível: não estamos desperdiçando os nossos melhores anos sonhando com Jesus? Não estamos gastando as nossas melhores energias por uma causa inútil?
O que fazia Jesus quando se via perturbado por este tipo de pensamentos sombrios? Identificava-se ainda mais com aqueles que sofrem e continuava a confiar nesse Pai que pode oferecer-nos uma vida que não pode ser deduzida do que experimentamos aqui na terra.
José Antonio Pagola
(Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez)

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