sexta-feira, 26 de junho de 2020

Solenidade de São Pedro e São Paulo (Pagola)


Confessar com a vidaquem é Jesus 

“Quem dizeis vós que Eu sou?” Todos os evangelistas sinóticos citam esta pergunta dirigida por Jesus a seus discípulos na região de Cesaréia de Filipe. Para os primeiros cristãos era muito importante lembrar isso sempre de novo: quem estavam seguindo, com o projeto de quem estavam colaborando e por quem estavam arriscando sua vida.

Quando escutamos esta pergunta hoje, temos a tendência de pronunciar as fórmulas que foram sendo cunhadas pelo cristianismo ao longo dos séculos: Jesus é o Filho de Deus feito homem, o Salvador do mundo, o Redentor da humanidade, e assim por diante. Mas será que basta pronunciar estas palavras para converter-nos em “seguidores” de Jesus?

Infelizmente se trata com frequência muito mais de fórmulas aprendidas na idade infantil, aceitas de maneira mecânica, repetidas de forma ligeira e afirmadas verbalmente, do que experiências vividas seguindo os passos de Jesus.

Confessamos a Cristo por costume, por piedade ou por disciplina, mas vivemos, na maioria das vezes, sem captar a originalidade de sua vida, sem escutar a novidade de seu apelo, sem deixar-nos atrair por seu amor apaixonado, sem contagiar-nos por sua liberdade e sem esforçar-nos em seguir seu caminho.

Nós o adoramos como “Deus”, mas Ele não é o centro de nossa vida. Nós o confessamos como “Senhor’, mas vivemos de costas para seu projeto, sem conhecer o sonho que dava sentido à sua vida. Nós o chamamos de “Mestre”, mas não vivemos motivados pelo que motivava a vida dele nem assimilamos sua lição maior. Vivemos como membros de uma religião, mas não somos discípulos de Jesus.

Paradoxalmente, a “ortodoxia” de nossas fórmulas doutrinais pode dar-nos segurança, dispensando-nos de um encontro mais vivo com Jesus. Há cristãos muito “ortodoxos” que vivem uma religiosidade instintiva, mas não conhecem por experiência o que é alimentar-se de Jesus e deixar-se orientar por ele. Sentem-se “proprietários” da fé, vangloriam-se da própria ortodoxia, mas não conhecem o dinamismo do Espírito de Cristo.

Não devemos enganar-nos. Cada um de nós deve colocar-se diante de Jesus, deixar-se olhar diretamente por Ele e escutar do fundo do seu ser a pergunta que Ele nos faz: “Quem sou eu realmente para você?” Responde-se a esta pergunta muito mais com a vida do que com palavras sublimes.
José Antônio Pagola

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