sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

3° Domingo do Advento


Ele enche a mesa dos famintos e pede que os ricos esperem!
(Sf 3,14-18; Is 12,2-6; Fil 4,4-7; Lc 3,10-18)
Chegamos à terceira semana do Advento. Menos de dez dias nos separam do Natal. O comércio segue com sua atividade frenética e quer nos envolver por todos os lados e nos interpelar de todas as formas. Mas nós continuamos com o desejo de preparar o Natal  de um modo mais cristão. Sonhamos com um tempo em que a a mesa dos famintos seja farta e a alegria não seja apenas uma promessa embutida no consumo desenfreado. Nosso desejo é ajudar a constuir um mundo no qual o maior presente seja nossa presença inteira, intensa e solidária junto às pessoas que amamos e àquelas que mais necessitam de nós. Aspiramos por notícias boas e verdadeiras, que tragam alegria para todos. Eis nossa esperança mais genuína: que quem tem mais não se incomode em dar a preferência a quem sempre teve que esperar. Mas, para não enganar ninguém, esta esperança precisa passar por práticas concretas e cotidianas: repartir generosamente e agir responsavelmente, para que nossa alegria seja verdadeira e duradoura.
“Não vos preocupeis com coisa alguma.”
Escrevendo aos cristãos filipenses, Paulo pede que eles não se deixem inquietar por nada. Em primeiro lugar, porque o Senhor está próximo, tanto em termos de tempo como de espaço. E também porque, mediante a oração, podemos apresentar a Deus todas as nossas necessidades, certos de que ele as acolhe. A oração é o espaço dialogal que nos ajuda a fugir do sufoco das necessidades imediatas e a descobrir aquilo que é verdadeiramente essencial e indispensável para viver.
Portanto, não nos deixemos inquietar pelos presentes que ainda não compramos, pela decoração natalina que ainda não fizemos, pelas provisões de comida e de bebida que ainda não providenciamos. Nossa vida não depende unicamente disso. E o Menino Deus não nos visita apenas guiado pelas luzes coloridas que piscam como falsas estrelas. A alegria verdadeira, que coincide com nossa plena realização humana, passa por outros caminhos. E, geralmente, esses caminhos atravessam desertos...
“Que devemos fazer?”
João Batista nos espera no deserto para nos falar em nome de Deus. Não somos as únicas pessoas que ousamos fazer este caminho de simplificação e de verdade. Uma pequena multidão rodeia o profeta e escuta sua pregação clara como um sino. Muitos são publicanos ou soldados a serviço do império. “O que devemos fazer?” Esta é a pergunta que borbulha no fundo do nosso ser. E a resposta mostra uma direção: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem. E quem tiver comida, faça a mesma coisa.”
Será que entendemos? O que temos a fazer não é comprar roupas novas, nem de fazer reserva de comida! Trata-se de repartir o que temos com quem tem menos do que nós ou passa necessidade. Trata-se mais de despertar o brilho nos olhos de quem não é tratado/a como gente que de acender luzes e estrelas artificiais. Não seria este o modo de rebaixar as montanhas de bens que se acumulam injustamente nas mãos e armazéns de alguns à custa da carência de muitos? Não seria este o melhor jeito evitar as curvas que fazemos para não ver os empobrecidos e miseráveis cara a cara?
Cobradores de impostos e soldados romanos, como outros tantos desprezados, também querem aplainar o caminho da própria vida. E a resposta daquela Voz que clama no deserto é clara e certeira: não cobrar nada além da taxa estabelecida; não maltratar ninguém; não fazer acusações falsas; contentar-se com o justo pagamento. Estes são apenas alguns exemplos, convites para que estabeleçamos aquilo que podemos e devemos fazer para que as mesas vazias se encham de pão e de beleza e a alegria seja universal, verdadeira e duradoura.
 “Seja a vossa amabilidade conhecida de todos!”
É verdade que somos chamados a ser sal que se esconde na comida e luz que não chama a atenção sobre si mesma mas para a ação libertadora de Deus no mundo. Como a de João Batista, nossa vocação é de contribuir para que Cristo cresça e nós mesmos/as diminuamos. Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance e depois dizer, convictamente: “Somos apenas servos/as, nosso trabalho é dispensável.”
Mas, depois de pedir que os cristãos filipenses façam as pazes na comunidade, Paulo pede que a bondade dos cristãos seja notada por todos. Ou seja: nossa preparação para a celebração do Natal deve ser perceptível aos olhos das pessoas que não seguem Jesus Cristo na prática  cotidiana, mesmo sendo cristãos de nome. Esta bondade inerente ao ser cristão há de ser visível em nosso modo de celebrar, nas relações familiares e com a vizinhança, no nosso posicionamento diante das grandes questões da humanidade em cada momento histórico.
Nossa bondade e inteligência de matiz cristão devem se mostrar, por exemplo, na nossa atitude diante da questão da fome no mundo. A fome que fere povos inteiros hoje não é causada pela falta de alimentos mas pela falta dinheiro para comprá-los. A FAO estima que, para diminuir pela metade o número de famintos até 2015, seriam necessários apenas 44 bilhões de dólares por ano. Os países ricos gastaram entre 2008 e 2011, mais de 12 trilhões de dólares para socorrer os bancos, enquanto bastaria 0,36% deste montante por ano para acabar com a fome de de 1 bilhão de seres humanos.
“Clame e grite de alegria!”
Mas a nossa luta implacável contra o paradoxo do esbanjamento de uns e a mesa vazia de uma multidão se reveste de uma serena alegria. Mesmo quando levantamos a voz e marchamos pelas estradas e avenidas, permanecemos vigilantes a fim de o que o ódio não destrua pela raiz o bem que queremos gerar. Deus age na história desde sempre, e está claramente ao lado dos/as que sonham novos céus e nova terra, solidário com aqueles/as que sofrem as consequências das injustiças. O coração de Deus bate no interior de todos os movimentos de libertação, pertençam ou não ao cristianismo.
É isso que faz ressoar a voz profética de Sofonias: “Grite de contentamento... Alegre-se, Israel! Fique alegre e exulte de todo o coração... Você nunca mais verá a desgraça... Não tenha medo, Sião! Não se acovarde!” Sofonias diz que o próprio Deus está alegre e contente com seu povo. Por causa do seu povo, que está longe de ser perfeito e de viver tranquilamente, Deus dança de alegria e renova seu amor. E quer que esta mesma alegria seja experimentada por todo o seu povo.
A palavra de Paulo vai na mesma direção: “Fiquem sempre alegres no Senhor! Repito: fiquem alegres!” Certamente a alegria cristã é sóbria e inocente: não é produzida pelo consumo exagerado de alcool, nem sustentada pelo dinheiro acumulado mediante expropriação. É uma alegria experimentada no meio da ingente luta para dar uma nova  fisionomia ao mundo, a partir da certeza de que já somos vitoriosos/as, pois vitoriosa é a pessoa que rompe com a passividade.
“O povo estava esperando o Messias...”
Não nos dxeixemos algemar pela pressa e pelas facilidades. O Reino de Deus não se constrói num passe de mágica, nem aparece ostensivamente, em revoluções reais ou aparentes. O Reino de Deus tem seu ritmo e seu tempo. É como a semente lançada na terra, que germina, cresce e frutifica na estação propícia. É preciso dar tempo ao tempo. Não podemos ceder a otimismos exagerados, protagonismos minoritários e alegrias infundadas. E nem a passividades cínicas.
Diante do testemunho de coragem e de despojamento de João Batista, assim como da sua mensagem clara e concreta, muita gente se perguntava se ele não seria o Messias esperado. E ele faz questão de deixar claro que o melhor e o maior ainda está por vir. É diante dele que se revelará o que é trigo bom e o que não passa de palha seca. É diante do presépio e da cruz – da Palavra humanamente encarnada – que revelamos o que realmente somos. Nós somos transitórios/as, e só ele e seu Reino permanecem.
“Louvai o Senhor, aclamai o seu nome!”
Deus próximo, pai-mãe amável e causa da nossa alegria! Te agradecemos pelas palavras e pela direção claramente demarcada por João Batista. Ele nos mostra por onde passa o caminho que enche de pão e de beleza a mesa dos famintos. Ele nos ensina que Aquele que vem na humildade da estrebaria é o único Senhor a quem devemos servir. Ele veio, vem e virá. Ele não é posse de nenhuma igreja ou religião, e diante dele todos/as precisamos pedir licença até para desamarrar suas sandálias. Por sua humildade, ele é grande em nosso meio, e nada temos a temer. Nele todos/as podemos beber alegremente dignidade e liberdade. Ajuda-nos, bom pai-mãe, a caminharmos alegres e serenos/as para o Natal que se aproxima, mudando hábitos, abrindo nossas mãos solidárias, repartindo sempre. Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf

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