quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Uma destruição massiva: a geopolítica da fome (final)


A ONU incluiu o direito à alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É na perspectiva da luta por esse direito, um dos mais violados, que publiquei, durante três meses, uma série de breves textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à alimentação. São informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do recente livro Destruction massive. Géopolitique de la faim, de Jean Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008.
O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora Seuil (Paris).
Com esta página, concluo esta série de partilhas, agradecendo a atenção dos amigos/as e convocando a todos/as à militância pelo direito humano à alimentação.

Como erradicar a tragédia da fome?
A erradicação do escândalo da fome passa pela luta contra a corrupção dos dirigentes de muitos países do hemisfério Sul, contra sua venalidade, seu apego ao poder e ao dinheiro que esta posição lhes possibilita. A malversação do dinheiro público em certos países do Terceiro Mundo e o enriquecimento dos políticos é uma verdadeira calamidade. Onde vigora a corrupção, os países acabam sendo vendidos aos predadores do capital financeiro mundializado. Como combater eficazmente e vencer esses inimigos?

Che Guevara dizia que os muros mais fortes começam a cair a partir de suas rachaduras. E Gramsci dizia que o pessimismo da razão obriga o otimismo da vontade. Péguy poetizava que a esperança é a mais bela flor da criação, capaz de encantar o próprio Deus. A ruptura, a resistência e o apoio aos contra-poderes ou forças populares em todos os níveis é indispensável. É necessário contar também com homens e mulheres capazes de ações voluntariosas, concretas e simbólicas.

As soluções existem e os meios para realizá-las estão disponíveis. E os primeiros meios, especialmente no Ocidente do mundo, são o voto, a livre manifestação, a mobilização geral, a greve... Estes meios podem nos ajudar a fazer pressão em vista de uma mudança radical nas alianças e políticas. Não há impotência num mundo realmente democrático.

O reinado planetário dos trustes agroalimentares gera a miséria e a fome de centenas de milhões de seres humanos, enfim, a morte. Ao contrário, a agricultura familiar de sobsistência, se for apoiada pelos Estados e se puder contar com os investimentos e insumos dos quais necessita, é geradora de vida, e de vida para todos.

Em 2011, a Via Campesina apresentou ao Conselho de Direitos Humanos da ONU uma declaração, em cujo preâmbulo advertia: “Os camponeses e camponesas representam quase a metade da população mundial. Mesmo no mundo da tecnologia de ponta, as pessoas comem os alimentos produzidos por eles/as. A agricultura não é simplesmente uma atividade econõmica, pois está intimamente ligada com a vida e à sobrevivência na terra. A segurança dos povos depende depende do bem-estar dos camponeses e camponesas e da agricultura estável. Para proteger a vida humana é importante respeitar e colocar em prática os direitos dos camponeses. A violação contínua desses direitos ameaça a vida humana e o planeta.”

A erradicação do flagelo da fome começa com a indignação, que é o contrário da indiferença e o sinal de que não perdemos a humanidade. Como reza o belo poema de Léon Greco, imortalizado na voz de Mercedes Sosa: “Eu só peço a Deus que a dor não me seja indiferente; que a seca morte não me encontre vazio e só, sem ter feito o suficiente...” (p. 338-341)

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