A ONU incluiu o direito à
alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É na perspectiva da luta
por esse direito, um dos mais violados, que publiquei, durante três meses, uma
série de breves textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à
alimentação. São informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do
recente livro Destruction massive. Géopolitique de la
faim, de Jean
Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008.
O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora
Seuil (Paris).
Com esta página, concluo esta série de
partilhas, agradecendo a atenção dos amigos/as e convocando a todos/as à
militância pelo direito humano à alimentação.
Como erradicar a tragédia da fome?
A erradicação do escândalo da fome passa pela luta
contra a corrupção dos dirigentes de muitos países do hemisfério Sul, contra
sua venalidade, seu apego ao poder e ao dinheiro que esta posição lhes
possibilita. A malversação do dinheiro público em certos países do Terceiro
Mundo e o enriquecimento dos políticos é uma verdadeira calamidade. Onde vigora
a corrupção, os países acabam sendo
vendidos aos predadores do capital financeiro mundializado. Como combater
eficazmente e vencer esses inimigos?
Che Guevara dizia que os muros mais fortes começam a cair a
partir de suas rachaduras. E Gramsci dizia que o pessimismo da
razão obriga o otimismo da vontade. Péguy poetizava que a esperança é a
mais bela flor da criação, capaz de encantar o próprio Deus. A ruptura, a
resistência e o apoio aos contra-poderes ou
forças populares em todos os níveis é indispensável. É necessário contar
também com homens e mulheres capazes de ações voluntariosas, concretas e
simbólicas.
As soluções existem e os meios para realizá-las estão
disponíveis. E os primeiros meios, especialmente no Ocidente do mundo, são o voto, a livre manifestação, a mobilização
geral, a greve... Estes meios podem nos ajudar a fazer pressão em vista de
uma mudança radical nas alianças e políticas. Não há impotência num mundo realmente democrático.
O reinado planetário dos trustes agroalimentares gera
a miséria e a fome de centenas de milhões de seres humanos, enfim, a morte. Ao
contrário, a agricultura familiar de
sobsistência, se for apoiada pelos Estados e se puder contar com os investimentos
e insumos dos quais necessita, é geradora de vida, e de vida para todos.
Em 2011, a Via
Campesina apresentou ao Conselho de
Direitos Humanos da ONU uma declaração, em cujo preâmbulo advertia: “Os
camponeses e camponesas representam quase a metade da população mundial. Mesmo
no mundo da tecnologia de ponta, as pessoas comem os alimentos produzidos por
eles/as. A agricultura não é simplesmente
uma atividade econõmica, pois está intimamente ligada com a vida e à
sobrevivência na terra. A segurança dos povos depende depende do bem-estar
dos camponeses e camponesas e da agricultura estável. Para proteger a vida
humana é importante respeitar e colocar em prática os direitos dos camponeses. A violação contínua desses direitos ameaça a
vida humana e o planeta.”
A erradicação do flagelo da fome começa com a indignação, que é o contrário da
indiferença e o sinal de que não perdemos a humanidade. Como reza o belo poema
de Léon Greco, imortalizado na voz de Mercedes Sosa: “Eu só peço a Deus que a
dor não me seja indiferente; que a seca morte não me encontre vazio e só, sem
ter feito o suficiente...” (p. 338-341)
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