Nossa
Senhora de Guadalupe: piedade e ciência
Imagem de S. Diego, nos jardins do Vaticano |
A bela e moderna ‘Aula
Capitular’ do Aunditório Paulo VI, na
cidade do Vaticano, está acolhendo nestes dias o Congresso Ecclesia in America, sobre o qual já falamos em duas
crônicas anteriores. Colhendo a oportunidade sugerida pelos 15 anos da
exortação papal que se seguiu ao Sínodo
dos Bispos que refletiu sobre a situação e a missão da Igreja nas Américas
(novembro/dezembro de 1997), a Pontifícia
Comissão para a América Latina organizou este evento, do qual estão
participando em torno de 250 pessoas.
O segundo dia do Congresso
teve três momentos distintos. Num primeiro, os oito grupos temáticos que se
reuniram na tarde de ontem apresentaram ao plenário uma síntese de suas
reflexões e propostas. Depois, às 11 horas, as portas dos famosos jardins do
Vaticano foram abertas para o grupo que, aos pés do monumento a São João Diego
e Nossa Senhora de Guadalupe, rezaram o terço guadalupano. Finalmente, agora no
Auditório São Pio X (situado fora da
cidade do Vaticano, na Via della Conciliazione), o Pe. Eduardo Chávez
apresentou uma segunda conferência, desta vez com o tema “Esplendor e beleza na
imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. Investigações científicas sobre o manto
de São Diego”.
Na partilha das reflexões e
propostas dos grupos temáticos, alguns aspectos me chamaram a atenção: a) a
constante referência à obediência à hirarquia, com destaque para a obediência
ao Papa, como se os Bispos e igrejas locais fossem absolutamente destituídos de
qualquer autoridade doutrinal e iniciativa pastoral; b) a insistência sobre uma
agenda marcadamente moral, com ênfase no matrimônio, na família e na
sexualidade, em detrimento de uma agenda social; c) a menção frequente aos
pobres, mas como pessoas a serem ajudadas e tuteladas, mas nunca como seujeitos
de direitos e capazes de organização e de iniciativas trasnformadoras; d) o
esvaziamento das próprias noções ‘pobre’ e ‘solidariedade’, revestidas de um
espiritualismo moralizante; e) a incapacidade de pensar a ação da Igreja na
dimensão social em parceria com outras organizações da sociedade civil. É claro
que estas observações são muito pessoais, e não pretendem oferecer um resumo
das reflexões bastante diversificadas.
Hall do Auditorio Paulo VI |
Quanto à proveniência dos
participantes do Congresso, fica cada vez mais clara a predominância de pessoas
que pertencem aos movimentos eclesiais e neles militam, tanto padres e religiosos/as
como leigos/as. Eles representam uma clara maioria, e estão permanentemente ao
lado dos hierarcas que os sustentam e que são por eles sustentados. Imagino que
estes movimentos banquem as despesas dos seus participantes no Congresso, o que
outros organismos eclesiais não conseguem ou não querem fazer. Sem muito
esforço, identifiquei vários brasileiros/as da comunidade Canção Nova, do
Movimento Shalon, dos Arautos do Evangelho, da Comunhão e Libertação, do
Focolares...
É o protagonismo dos
leigos/as, ou melhor, de um tipo específico de leigo/a: dos movimentos
eclesiais, com ênfase espiritualista e que priorizam o trabalho com a classe
média. Isso ficou visível na questão dos/as relatores dos grupos temáticos: uma
leiga mulher, cinco leigos homens e dois padres pertencentes a movimentos. Esse
pessoal estava estrategicamente distribuído nos grupos e foram os primeiros a
se oferecer para assumir o trabalho de secretaria. E, é claríssimo, deram sua
própria perspectiva a uma reflexão que já vinha muito marcada pela cosmovisão
destes grupos. Não podemos negar que a presença ativa e propositiva dos/as
leigos/as seja por si mesmo um aspcto positivo. Mas é uma Igreja longo das
necessidades e lutas dos pobres, das vítimas e dos marginalizados.
Uma última questão é a da
presença ativa (ou da ausência) da Igreja do Brasil no desenvolvimento do
Congresso: nenhum/a brasileiro/a entre os/as seis conferencistas principais; nenhum/a
brasileiro/a entre as pessoas que introduziram e motivaram as reflexões nos
grupos temáticos. Enquanto isso, entre os conferencistas principais estavam dois
norteamericanos, e quatro dos oito responsáveis pelo ‘imput’ nos grupos também
eram norteamericanos... E, ademais, nada de cântico, oração ou apresentação em
português. Passou o tempo da oposição cerrada a tudo o que cheirava a norteamericano
ou romano, mas um certo equilíbrio não faria nada mal...
Itacir Brassiani msf
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