João Batista: o
verdadeiro amigo do Esposo
João Batista, estando na
prisão, ouviu falar das obras do Cristo, e mandou alguns dos discípulos para
lhe perguntar: ‘És tu aquele que havia de vir ou esperamos a outro?’ E Jesus, respondendo,
disse-lhe: ‘Ide e dizei a João as
coisas que ouvis e vedes: Os cegos vêem, e os coxos andam; os
leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos
pobres é anunciado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar
em mim.’ E, partindo eles, começou Jesus a dizer às turbas a respeito de João: ‘Que
fostes ver no deserto? Uma cana
agitada pelo vento?
Sim, que fostes ver? Um homem ricamente vestido?
O que se trajam ricamente estão nas casas dos reis. Mas, então, que
fostes ver? Um profeta?
Sim, vos digo eu, e muito mais do ue um profeta; porque é este de quem está escrito: Eis que
diante da tua face envio o meu mensageiro que preparará diante de ti o teu
caminho. Em verdade vos digo que,
entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no Reino dos céus é maior do que ele.’
(Mateus 11,2-10).
Seu pai e sua
mãe devem ter logo se acostumado com a sua ausência. Você costumava ir ao
deserto, comia qualquer coisa, tinha idéias muito diferentes, alguém que vê
mais longe, que diz que não temos necessidade de banquetes refinados, de roupas
vistosas, de casas confortáveis. Você era apegado à sua missão, fiel às
exigências de Deus.
Sim, você sabe
que a saudade de Deus dorme em cada um de nós, e o povo começou a se aproximar.
Esta poderia ser uma boa oportunidade se você não tivesse agredido alguns com
expressões fortes como ‘raça de serpentes venenosas’. E mais, você insistia em
chamar a atenção: ‘Convertam-se, preparem a estrada àquele que virá!...’
Quantas vezes você perdeu a oportunidade de assumir o lugar dele... Quantas vezes
você desiludiu as multidões que lhe exaltavam, dizendo: ‘Daquele que virá eu
não sou digno nem mesmo de ser escravo...’
Até que ele veio
mesmo. Somente você sabe o que aconteceu no seu íntimo quando, às margens do
rio Jordão, na fila daqueles/as que buscavam seu batismo, você o viu cara a
cara. Uma mistura de alegria e de distanciamento, de festa e de melancólica
percepção do próprio crepúsculo. O Sol havia despontado, e a estrela da manhã
podia desaparecer...
Mas você
continuou a batizar, a preparar a estrada. Você continuou a falar, inclusive
sob o nariz dos poderosos. “Não te é lícito!...” Você foi detido e levado à
prisão, mas temos a impressão que você mesmo preparou conscientemente esse
desfecho. O processo seria pensado depois, se a raiva daquela mulher permitisse...
Não sabemos quanto tempo você permaneceu naquele cárcere subterrâneo, obscuro
presságio da sepultura, observando espirais de luz que subiam.
Alguém trazia
notícias sobre aquilo que andava fazendo e dizendo Aquele que finalmente havia
vindo. Ao escutar estas notícias, sua fé de pedra talvez tenha sido sacudida
pela dúvida. A chama ardente da sua esperança foi abalada pelo vento. E se não
fosse ele o Esperado? Por que ele não queimava aquela palha que infestava o
mundo para deixar apenas os grãos sadios? Talvez alguém até tenha soprado aos
seus ouvidos: como ele pode permitir que os poderosos façam apodrecer nos
cárceres pessoas inocentes?
Então você enviou
aqueles últimos discípulos fiéis ao encontro dele. “És tu Aquele que deve vir?”
Você queria entender, ou talvez entregar a ele aquilo que lhe restava. Seus discípulos
voltaram e contaram sobre doentes que eram curados, sobre mortos que eram
ressuscitados e sobre uma bem-aventurança reservada àqueles que não se
escandalizavam dele. Falaram também de um Reino que era graça imerecida, de
mãos de pobres que recebiam abundantemente.
No umbral da
morte, sua fé de pedra se transformou em confiança mesmo na escuridão. Você se
tornou verdadeiramente amigo dele. Jesus assumia e carregava no coração sua
prisão e sua morte, que anunciavam a própria morte dele. Ele também, do alto da
cruz, gritaria uma pergunta justamente àquele de quem amava e experimentava a
ausência. Ele venceu também por você.
Você, o maior da
antiga aliança, foi o primeiro a ver ele, ressuscitado, chegando para libertar
você. Você então compreendeu que a festa de casamento tinha começado e que o
esposo vinha buscar você, o amigo. E então, se vestiu de festa, como nunca
havia feito. Você foi levado a uma mesa que sempre havia recusado. Na mesa, ele
mesmo o serviu você, símbolo de todos os amigos/as, o primeiro da fila dos
heróis do segundo lugar, de todos os fiéis que vivem sua fé na obscuridade e
padecem uma morte estúpida, mas fazem dela seu próprio presente para a festa.
(Teresina Caffi, In cammino con il Vangelo, EMI,
Bologna, 2008, p. 26-29)
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