terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ícones da missão: João Batista


João Batista: o verdadeiro amigo do Esposo

João Batista, estando na prisão, ouviu falar das obras do Cristo, e mandou alguns dos discípulos para lhe perguntar: ‘És tu aquele que havia de vir ou esperamos a outro?’ E Jesus, respondendo, disse-lhe: ‘Ide e dizei a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em mim.’ E, partindo eles, começou Jesus a dizer às turbas a respeito de João: ‘Que fostes ver no deserto?  Uma cana agitada pelo vento?
Sim, que fostes ver? Um homem ricamente vestido?  O que se trajam ricamente estão nas casas dos reis. Mas, então, que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do ue um profeta; porque é este de quem está escrito: Eis que diante da tua face envio o meu mensageiro que preparará diante de ti o teu caminho. Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no Reino dos céus é maior do que ele.’ (Mateus 11,2-10).

Seu pai e sua mãe devem ter logo se acostumado com a sua ausência. Você costumava ir ao deserto, comia qualquer coisa, tinha idéias muito diferentes, alguém que vê mais longe, que diz que não temos necessidade de banquetes refinados, de roupas vistosas, de casas confortáveis. Você era apegado à sua missão, fiel às exigências de Deus.

Sim, você sabe que a saudade de Deus dorme em cada um de nós, e o povo começou a se aproximar. Esta poderia ser uma boa oportunidade se você não tivesse agredido alguns com expressões fortes como ‘raça de serpentes venenosas’. E mais, você insistia em chamar a atenção: ‘Convertam-se, preparem a estrada àquele que virá!...’ Quantas vezes você perdeu a oportunidade de assumir o lugar dele... Quantas vezes você desiludiu as multidões que lhe exaltavam, dizendo: ‘Daquele que virá eu não sou digno nem mesmo de ser escravo...’

Até que ele veio mesmo. Somente você sabe o que aconteceu no seu íntimo quando, às margens do rio Jordão, na fila daqueles/as que buscavam seu batismo, você o viu cara a cara. Uma mistura de alegria e de distanciamento, de festa e de melancólica percepção do próprio crepúsculo. O Sol havia despontado, e a estrela da manhã podia desaparecer...

Mas você continuou a batizar, a preparar a estrada. Você continuou a falar, inclusive sob o nariz dos poderosos. “Não te é lícito!...” Você foi detido e levado à prisão, mas temos a impressão que você mesmo preparou conscientemente esse desfecho. O processo seria pensado depois, se a raiva daquela mulher permitisse... Não sabemos quanto tempo você permaneceu naquele cárcere subterrâneo, obscuro presságio da sepultura, observando espirais de luz que subiam.

Alguém trazia notícias sobre aquilo que andava fazendo e dizendo Aquele que finalmente havia vindo. Ao escutar estas notícias, sua fé de pedra talvez tenha sido sacudida pela dúvida. A chama ardente da sua esperança foi abalada pelo vento. E se não fosse ele o Esperado? Por que ele não queimava aquela palha que infestava o mundo para deixar apenas os grãos sadios? Talvez alguém até tenha soprado aos seus ouvidos: como ele pode permitir que os poderosos façam apodrecer nos cárceres pessoas inocentes?

Então você enviou aqueles últimos discípulos fiéis ao encontro dele. “És tu Aquele que deve vir?” Você queria entender, ou talvez entregar a ele aquilo que lhe restava. Seus discípulos voltaram e contaram sobre doentes que eram curados, sobre mortos que eram ressuscitados e sobre uma bem-aventurança reservada àqueles que não se escandalizavam dele. Falaram também de um Reino que era graça imerecida, de mãos de pobres que recebiam abundantemente.

No umbral da morte, sua fé de pedra se transformou em confiança mesmo na escuridão. Você se tornou verdadeiramente amigo dele. Jesus assumia e carregava no coração sua prisão e sua morte, que anunciavam a própria morte dele. Ele também, do alto da cruz, gritaria uma pergunta justamente àquele de quem amava e experimentava a ausência. Ele venceu também por você.

Você, o maior da antiga aliança, foi o primeiro a ver ele, ressuscitado, chegando para libertar você. Você então compreendeu que a festa de casamento tinha começado e que o esposo vinha buscar você, o amigo. E então, se vestiu de festa, como nunca havia feito. Você foi levado a uma mesa que sempre havia recusado. Na mesa, ele mesmo o serviu você, símbolo de todos os amigos/as, o primeiro da fila dos heróis do segundo lugar, de todos os fiéis que vivem sua fé na obscuridade e padecem uma morte estúpida, mas fazem dela seu próprio presente para a festa.

(Teresina Caffi, In cammino con il Vangelo, EMI, Bologna, 2008, p. 26-29)

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