José, o esposo: amor sem palavras
Ora, o
nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com
José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então
José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la
secretamente. E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do
Senhor, dizendo:
“José,
filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está
gerado é do Espírito Santo; e dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS;
porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.”
Tudo isto
aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo
profeta, que diz; eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão
pelo nome de EMANUEL, que traduzido significa ‘Deus conosco’.
E José,
despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua
mulher. E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe
por nome Jesus.
Tu desejavas apenas uma vida
ordinária: uma mocinha para esposar, escolhida entre as tantas da vila, uma
casa, um trabalho com o qual manter ela e os filhos que viriam. Exatamente como
estava subentendido no teu nome: José de fato significa ‘o Senhor acrescenta’.
A antiga origem nobre era
apenas uma memória distante. Davi, todos sabem, veio mil anos antes, e os seus
descendentes eram incontáveis. Entretanto, tu eras apenas um homem do povo, com
a dingidade da tua justiça e do bem que querias a Maria.
Esta era a tua pequena-grande
história, como a nossa: sem pretensões, como as pequenas lajes de um pavimento,
que devem ser iguais entre si; ou como os tijolos de uma parede, que devem ser
semelhantes. Tu deixavas aos outros ser belas pedras do mosaico, ou preciosos diamantes.
Tudo era normal, até aquele
dia amargo e estranho no qual ela apareceu grávida. A história estava cheia de
fatos semelhantes. Desencontro, ciúme, repúdio. Mas tu procuravas um jeito de ser
justo e misericordioso para com ela. Preferias desaparecer sem deixar notícias,
mas não expô-la ao desprezo público. Tinhas aprendido a deixar ao amor a última
palavra.
Mas depois tudo mudou, e a tua
história entrou entrou na história de um Deus que se fazia bebê passando
exatamente por Maria, a tua esposa. Te vemos como que congeelado naquele
momento, pois para ti doravante todos os instantes foram assim. Alguém arruinou
teus planos e razões e te fez aprender a obediência.
É nesse ponto que nós queremos
entrar na tua escola, José. Nós, filhos/as da liberdade, buscamos à saciedade o
poder de dicidir, sempre e em tudo. ‘Farei isso e aquilo... Irei aqui e lá... Mais
adiante pensarei nisso...’ Mesmo fazendo o bem, mantemos firmes o timão da
nossa vida. Se vai bem, morremos como heróis solitários/as, depois de termos
erguido um monumento a nós mesmos/as e de haver contado aos mortais comuns as
nossas memórias.
José, homem sem palavra, tu
não eras assim. José dos planos arruinados, tu eras diferente. José, que não
pudeste contar tua história, tu és verdadeiramente grande. Tu, pai do filho de
Deus, fostes realmente filho do Pai. Tu acreditaste. Tu viveste a inédita
aventura e nos deixaste a mensagem do silêncio.
Te descreveram e pintaram velho,
como se isso fosse suficiente para viver aquilo que viveste. Não se tratava de
velhice ou de um amor cuja chama já estava apagada, mas de fé. De obediência. De
total entrega ao Sonho de Deus que havia invadido o teu sonho.
Tu, límpido ouvinte da Palavra,
intercede por nós, entupidos/as de palavras, palavras nossas. Afogados/as em
raciocínios, em pensamentos nossos. Receosos/as de ceder a direção da nossa
vida àquele a quem ela realmente pertence. Nós, heróis solitários/as de um bem
decidido unicamente por nós.
Tu nos sugeres uma moratória
às palavras. Uma moratória aos projetos. Uma moratória aos raciocínios. Dá-nos
um pouco de sonho, a fim de que, com as mãos livres do timão, possamos escutar
no silêncio uma voz do alto e, depois de nos acordar, ela encontre em nós
sóbria e silenciosa realização.
(Tererina Caffi, In cammino con il Vangelo, EMI,
Bologna, 2008, p. 42-45)
Acolhendo a
sugestão da Rita Andreata, aqui vai o link da bela canção da Rita Lee, na qual
canta o ‘romance’ ou o mistério de José: http://www.youtube.com/watch?v=w428umHa53Q&feature=fvst
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