Oscar Niemeyer entrou no ano 2007 com
cem anos de idade e oito novas obras em execução.
O arquiteto mais ativo de todos não se
cansava de transformar, projeto após projeto, a paisagem do mundo.
Seus velhos olhos não subiam ao alto
céu, que nos humilhava, mas estavam sempre novos para ficar, prazerosos,
contemplando a navegação das nuvens, que eram sua fonte de inspiração para as
próximas criações.
Lá, na nuveria, ele descobria catedrais,
jardins de flores incríveis, monstros, cavalos a galope, aves de muitas asas,
mares que explodiam, espumas que voavam e mulheres que ondulavam ao vento e no
vento se ofereciam e no vento iam embora.
Cada vez que os médicos o internavam no
hospital, Oscar matava o aborrecimento compondo sambas, que cantava junto com
os enfermeiros.
E assim esse caçador de nuvens, esse
perseguidor da beleza fugitiva, deixou para trás seu primeiro século de vida, e
continuou em frente (até o dia 5 de dezembro de 2012).
(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012,
p. 406)
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