A ONU incluiu o direito à
alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É na perspectiva da luta
por esse direito, um dos mais violados, que publico aqui uma série de breves
textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à alimentação. São
informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do recente
livro Destruction massive. Géopolitique de la
faim, de Jean
Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008.
O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora
Seuil (Paris).
Agrocombustíveis, a obsessão de Barck Obama.
São todas empresas multinacionais norteamericanas as
produtoras mais poderosas de agrocombustíveis. Todos os anos elas recebem
bilhões de dólares de ajuda estatal. Barack Obama tem declarado que, para os
EUA, o programa de bioetanol é uma questão
de segurança nacional.
Em 2011, subvencionados por 6 bilhões de dólares de
fundos públicos, os conglomerados norteamericanos queimaram 38% da colheita
nacional de milho (contra 30% em 2008). Esta é uma das causas do aumento do
preço do milho no mercado mundial: desde 2008, subiu quase 50%.
Apesar de ter uma população de apenas 300 milhões de
habitantes, os EUA produzem aproximadamente 25% de todos os bens industriais do
planeta. A matéria-prima dessa impressionante máquina industrial é o petróleo.
Os EUA queimam uma média diria de 20 milhões de barris de petróleo, 25% da
produção mundial. Praticamente 60% desse combustível é importado.
É esta dependência energética que preocupa Barack
Obama. E como a maior parte desse combustível vem do Oriente médio, onde a
instabilidade politica é endêmica e os norteamericanos não são benquistos, essa
importação nunca está garantida. A consequência é que os EUA devem mater nessa
área uma força militar (aérea, terrestre e naval) extremamente dispendiosa.
“Em 2009, pela primeira vez, as despesas dos Estados
membros da ONU com armamentos (fora do orçamento militar propriamente dito)
superaram 1 trilhão de dólares. Desse total, 41% corresponde aos EUA. A China,
que é a 10ª potência militar do mundo, gastou 11%. Os contribuintes
norteamericanos financiam anualmente também 3 bilhões de dólares de ajuda
militar a Israel. E também as caríssimas bases militares na Arábia Saudita, no
Kwait, no Bahrein e no Qatar. Apesar de revolução do povo egipciano em janeiro
de 2011, o Egito continua sendo um protetorado norteamericano, e o custo anual
dessa sustentação militar passa de 1,3 bilhões de dólares” (p. 258).
Dá pra entender a dificuldade que Barack Obama
encontra para sustentar os programas sociais no seu próprio país, especialmente
o programa de saúde pública. Para financiá-los, ele teve que reduzir o orçamento
militar. Mas isso só será possível manter reduzindo a dependência energética e
desenvolvendo os agrocimbustíveis. Já em 2007 Bush havia estabelecido as metas:
em 20 anos, os EUA deveriam reduzir em 20% seu consumo de energia e aumentar
700% a produção de agrocombustíveis.
“A queima de milhões de toneladas de alimentos quando
a cada cinco segundos uma criança de menos de 10 anos morre de fome é, no
mínimo, revoltante. O tanque de um veículo de porte médio à base de etanol
contém 50 litros. Para fabricar 50 litros
de etanol é preciso destruir 358 km de milho. No México, na Zâmbia, o milho
é ingrediente essencial na alimentação. Nesses países, com 358 kg de milho uma
criança pode viver mais de um ano. A Anistia
Internacional resume essa situação: ‘Agrocombustíveis: tanques cheios de
ventres vazios’” (p. 259-260).
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