terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Fatos & Personagens: Tomas Morus


Anjinhos de Deus

Quando Flora Tristan viajou para Londres, ficou impressionada porque as mães inglesas acariciavam os filhos. As crianças ocupavam o último degrau na escala social, abaixo das mulheres. Eram tão dignas de confiança como uma espada partida.

Tomas Morus
E, no entanto, três séculos antes tinha sido inglês o primeiro europeu de alta hierarquia que havia reinvindicado as crianças como pessoas dignas de respeito e satisfação. Tomás Morus gostava delas e as defendia, brincava com elas sempre que podia e com elas compartilhava o desejo de que a vida fosse uma brincadeira sem fim.

Não durou muito o seu exemplo.

Durante séculos e até bem pouco tempo, foi legal o castigo das crianças nas escolas inglesas. Democraticamente, sem distinção de classes, a civilização adulta tinha o direito de corrigir a barbárie infantil açoitando as meninas com correias e batendo nos meninos com varas ou cassetetes. Ao serviço da moral social, esses instrumentos de disciplina corrigiram os vícios e os desvios de muitas gerações de descarrilados.

Por fim, no ano de 1986, as correias, as varas e os cassetetes foram proibidos nas escolas públicas inglesas. Depois, também foram proibidos nas escolas particulares.
Para evitar que as crianças sejam crianças, os pais podem castigá-las, sempre que os golpes sejam aplicados “em medida razoável e sem deixar marcas”.

(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2008, p. 86-87)

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