Erros
e riscos que rondam a nova evangelização
Acabo de ler um artigo de Dom
Thomas Menemparampil sdb, arcebispo emérito de Guwahati, Índia (‘Tutti ti
cercano... [Mc 1,37]’, Omnis Terra, anno XXX, n° 132, p.
185-195). Trata-se de um longo agradável artigo sobre a nova envangelização. O autor enfatiza que a ação evangelizadora
precisa conhecer a ‘psique coletiva’ dos povos e valorizar a sua especificidade
cultural. Gostaria de comentar aqui apenas alguns aspectos desta reflexão,
especialmente os erros (§ 10) e os perigos (§ 15) que, segundo o arcebispo,
rondam o projeto da nova evangelização.
Em relação à necessidade
imperiosa de reconhecer os diversos percursos espirituais que levam encontro
com Deus, Dom Thomas fala inicialmente de algumas apreciações reducionistas
do fenômeno religioso e cultural: uma abordagem puramente intelectual e
filosófica, que geralmente despreza as práticas de piedade; uma abordagem
sócio-cultural, que enfatiza acriticamente a piedade popular; um enfoque sócio-histórico,
que valoriza fortemente o engajamento social das religiões; uma apreciação espiritualista,
que focaliza quase que exclusivamente os aspectos místicos e contemplativos das
diversas religiões.
Mas a Igreja e seus
evangelizadores/as frequentemente incorrem também em alguns erros que
prejudicam muito a evangelização. O primeiro erro é a absolutização da experiência cristã de um período histórico, de uma
região ou de uma linha de pensamento, apresentando-a como se fosse a única
experiência válida. É claro que a tentação de hoje é assumir a síntese européia,
branca, masculina, pré-moderna e eclesiástica como única e válida. O segundo
erro é a irrelevância: a tendência
desesperada ou preguiçosa de responder a perguntas de outros tempos e que hoje quase
ninguém mais levanta, de dar respostas prontas e solenes a questões que não
interessam a ninguém. O terceiro erro é continuar discutindo prioritariamente as
questões últimas (morte, purgatório,
juízo, ressurreição, etc.), quando o mundo atual procura respostas e soluções
para as questões penúltimas, de ordem
vital ou prática.
No final, o arcebispo diz que,
para que levemos a sério o discurso sobre a nova evangelização, é preciso tomar
consciência de alguns perigos e evitá-los. E o primeiro perigo, quase um
hábito eclesiástico, é que a nova
evangelização não chegue a ser um programa ou um projeto e acabe sendo simples retórica: palavras belas,
elogiosas e vazias. O segundo perigo é o de transformar
a Igreja num mercado de artigos e serviços religiosos, com uma publicidade
atraente, programas entuasiasmantes, eventos massivos – bem ao estilo da
sociedade consumista e da cultura do espetáculo – mas sem profundidade
espiritual e sem aderência à dura realidade das pessoas. O terceiro risco é
restringir a necessária reforma da Igreja aos aspectos funcionais, pragmáticos e superficiais (administração, comunicação,
etc.), evitando as questões mais substanciais como a autenticidade, a
integridade, a coerência; a participação democrática dos leigos/as; o
reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres; a coragem profética, etc. Um quarto perigo, segundo o arcebispo Dom Menemparampil,
é que sejamos reféns do simples desejo de
novidade, que nos levaria a enfatizar as atividades que têm mais
visibilidade e prestígio (conferências, seminários, cursos, simpósios, etc.) e a
marginalizar as iniciativas pastorais que realmente contam e mudam a realidade,
mas que exigem presença e compromisso com o povo e perseverança no diálogo e no
serviço.
Penso que os erros e os
perigos para os quais Dom Menemparampil chama na atenção são muito reais e
tentadores. É preciso que nossos centros de formação e nossas instâncias de
reflexão e ccordenação missionárias e pastorais estejam muito vilantes e não
evitem a reflexão, a avaliação e a projeção. E todos/as precisamos fazer a
nossa parte para evitar que a missão e a evangelização sejam reduzidas a uma simples
verborréia ou a uma pastoral de manutenção,
que se contentam em dançar ao redor do fogo e celebrá-lo, sem mudar ou inovar
absolutamente nada.
Itacir Brassiani msf
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