Quando eu era pequeno, a
personagem de Maria consistia numa estatueta bastante bem feita duma loira
deslumbrante, mas mais escandinava que semita. Também os pastores tinham um ar
nórdico. Mesmo o burro, mais parecia um potro bem alimentado do que
um burro da Palestina. Por fim, partiram todos com a sua palha e o seu presépio
em vime para um hospital de Dublin onde o meu Pai era médico. Ali, reapareciam
todos os Natais. Até ao dia em que alguém influente, preocupado demais com o
politicamente correcto, foi da opinião que os muçulmanos podiam ficar
melindrados: dessa forma, desapareceram para sempre. No entanto, o Islão venera
a Virgem mas sob o seu verdadeiro nome: Miriam.
A verdade é que o meu pequeno
presépio era tão ofuscante como o estábulo de origem era escandaloso. Francisco
de Assis nunca quis que o seu modelo do nascimento em Belém se tornasse
delicado e refinado. Uma familiaridade grande demais dá lugar à complacência,
daí que a narrativa dos Evangelhos tenha perdido a capacidade de sacudir as
nossas imaginações adormecidas.
Idealisámos o estábulo. A gravidez deve ter
sido um calvário para Nossa Senhora.
Provavelmente, temos que distanciar-nos um
pouco das histórias de Lucas e de Mateus para ouvir a Virgem gritar na versão
do seu suplício tal como narra o Corão. Neste livro santo, ela está
desesperadamente sózinha e aterrorizada."Quando sentiu as dores do parto,
apoiou-se contra o tronco duma palmeira e gritou: "Eu queria morrer e já
não contar entre os homens."
"Eu queria morrer."
Como poderia ter acontecido, aliás. Tal como a lei muçulmana ou católica, a lei
hebraica nunca sorriu às mães solteiras. Sempre e em todo o mundo, são as mais
vulneráveis dentro das suas comunidades. Ainda hoje, em muitas culturas,
continuam a ser profundamente frágeis. Podem reconfortar-se com a companhia de
Maria. Como ela promete no Magnificat, Deus enaltece os humildes. (http://www.lugarsagrado.com/ )
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